Com forte inspiração no misticismo, poético na linha de Hayao Miyazaki, roupagem e paisagens vindas do leste europeu e folclore eslavo. Em linhas fáceis, a arte de Petreca é uma mistura única, tornando seu traço único, uma lembrança de cantigas ao balé do Cirque du Soleil. Uma viagem visual que poucos autores conseguem proporcionar em uma narrativa gráfica, sem puxar para o comum, indo até o imaginário fantástico, que um dia, já esteve entre nós.
Esse caldeirão de influências e seus primeiros trabalhos que juntam seu exercício criativo, surge a bela e sensível YE, publicada em 2016, pela Editora Veneta e financiada pelo Proac (Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo).
“Existe um ser, algo temível e cruel,
A Quem chamado Rei sem cor .
Quando alguém adoece, dizemos que a pessoa recebeu o sopro do rei.”
Simples, objetivo e fantástico!
Tudo tem início com a vinda do sopro do Rei sem Cor para o jovem Ye, que vive em um pequeno vilarejo com seus pais. Essa visita do Rei deixa uma marca em Ye, uma macha que só uma bruxa pode ajudar a curar. Assim, o jovem saí em busca de ajuda sem poder falar, pois ele não consegue falar.
Esse pequeno enredo é o suficiente para mostrar o domínio narrativo do autor. Petreca usa uma narrativa mais tradicional em comparação aos trabalhos anteriores, pouca experimentação e mais linear. Escolha que ajudou na leitura e na dinâmica dos quadros.
Ye é um personagem tímido, quieto e ingênuo, porém, muito expressivo. Sua viagem para descobrir e enfrentar os próprios medo internos é uma metáfora bem simples, mas executada com sabedoria. A escolha de abordar a praga do medo, dúvida, tragédia e outros, utilizando um design facilmente reconhecível de uma mancha negra com longos chifres é o suficiente para impactar o leitor.
O místico para abordar o realismo
Boa parte da história usa desse tipo de metáfora, usando imagens já pré-concebidas no imaginário coletivo. A vantagem nessa obra é justamente a arte. Mesmo um enredo simples e fácil, tudo se enriquece por conta do traço que desperta o fantástico. O encontro do protagonista com piratas é convencional, até rasa, em não explora os personagens a fundo. O trunfo fica por conta do traço e a simples história contada durante essa passagem.
Ye encontra vários obstáculos durante toda a narrativa, exercendo experiências que o ajudarão a contornar seus medos. Conhecemos um velho sanfoneiro que cozinha em um navio pirata; um palhaço que bebe mais do que deveria; e uma bruxa solitária desprezada pela sua cidade.
Embora rápida e pouco diferenciada, a narrativa consegue manter a curiosidade do leitor. Mesmo que Ye não fale, seus “diálogos” são extremamente divertidos e suas descobertas fora do vilarejo muito instigantes. Até mesmo os personagens secundários, pouco explorados, movem o enredo de maneira dinâmica, interagindo bem com o personagem principal.
Com desenhos empolgante e maduro, Ye é uma das melhores histórias em quadrinhos lançada no ano. Guilherme Petreca é um quadrinista de mão cheia, tem boas referências e sabe conduzir uma narrativa gráfica. Para conferir as palavras do making of de Ye clique aqui.
FICHA CATALOGRÁFICA
Título: YE
Autor: Guilherme Petreca
Editora: Veneta
Páginas: 176
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