Resenha – Ogiva, de Bruno Zago e Guilherme Petreca

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Ogiva - Pipoca & Nanquim

No ano passado passei a ler muito mais HQs do que antes e tive boas surpresas com o gênero. Passei por mangás como Yu Yu Hakusho e Green Blood, por quadrinhos que eu nem imaginava que existiam como O Máskara, por coletânea de tirinhas de jornal como Maxwell, o Gato Mágico e por clássicos do segmento como As Tartarugas Ninja. No entanto, a minha maior expectativa ficou para Ogiva, de Bruno Zago e Guilherme Petreca.

Todo esse sentimento foi alimentado, sem dúvida, pelo próprio roteirista da HQ. Zago é um dos criadores do canal sobre quadrinhos Pipoca & Nanquim, que existe desde 2009, e um dos sócios da Editora Pipoca & Nanquim, que surgiu como um complemento do canal em 2017. Durante o ano de 2020, o youtuber criou uma playlist em que mostrou passo a passo o desenvolvimento do seu primeiro quadrinho, no qual começou a trabalhar ainda em 2014.

Mundo destruído

A história de Ogiva trata de um mundo pós-apocalíptico em que monstros terríveis chegaram a terra. Foi então que, para tentar destruí-los, os humanos utilizaram ogivas nucleares. A ação só piorou a situação, as criaturas se multiplicaram e se espalharam pela superfície do planeta. Agora, as pessoas tentam simplesmente sobreviver em um mundo hostil e cheio de privações, com pouca água potável, comida e outros insumos fundamentais para sobrevivência.

Logo de início somos apresentados à Pilar, uma sobrevivente solitária que vaga por aí em busca de energia elétrica para carregar o seu celular – o motivo? Você só saberá lendo. Ela encontra a jovem Sara, uma menina que perdeu toda sua família e que só tem um parente vivo. Pilar decide então se responsabilizar pela menina e garantir que ela reencontre o irmão mais velho. A partir daí, em um mundo cheio de perigos humanos e monstruosos, o leitor acompanha a aventura dessas duas personagens em que segredos serão revelados e emoções serão levadas a flor da pele.

Eu recomendo
Bruno Zago – roteirista de Ogiva, criador do canal Pipoca & Nanquim e sócio da Editora Pipoca & Nanquim

Ogiva é um quadrinho de estreia divertido que mostra o bom potencial do roteirista. Iniciei a leitura com bastante expectativa. Por conta disso, confesso que de iniciou fiquei um pouco frustrado. A história começa um pouco atropelada. Zago quis criar uma situação inicial de impacto, técnica muito utilizada em filmes de terror e suspense. No entanto, não foi isso que me incomodou.

Já na primeira sequência há uma espécie de “chacina” em que apenas uma criança sobrevive. Na sequência, somos apresentados à protagonista da história, a Pilar. E, como num passe de mágica, Pilar e a garota sobrevivente se encontram. A menina, que ainda está escondida no mesmo lugar em que sua família foi assassinada, simplesmente confia de primeira, sem hesitar nenhum segundo, na Pilar – uma pessoa que ela acabou de conhecer.

Toda essa situação se torna ainda mais grave quando nos lembramos que, em algumas páginas antes, a mãe da garota havia alertado toda a família para não confiar em desconhecidos. Soma-se a isso o fato de a família da menina ter sido assassinada há poucas horas. Como alguém confiaria tão fácil assim em um estranho? Essa falha só é amenizada com o decorrer da narrativa, quando os personagens vão conquistando o leitor pelo carisma e passamos a torcer por eles e sofrer com eles. O criador consegue nos sugar para dentro da história. No final de tudo, Ogiva é uma HQ de estreia despretensiosa, mas altamente recomendável.

Guilherme Petreca, ilustrador de Ogiva

Em se tratando de arte não tem do que reclamar. O desenhista escolhido foi o já conhecido pelo público das HQs Guilherme Petreca. O traço carrega bastante a personalidade dele e contribuem decisivamente para criar o ambiente e os momentos de tensão. É um mundo pós-apocalíptico destruído, então os quadros trazem bastante jogo de luz e sombra, traços carregados e uma imensa riqueza de detalhes.

Várias referências

Acompanhei o processo criativo do Zago pelos vídeos do Pipoca & Nanquim e, por isso, confesso que fiquei um pouco preocupado com a salada que ele mesmo admitiu estar fazendo. Nos vídeos, o roteirista sempre dizia que Ogiva era, na verdade, a junção de um monte de coisas que ele gostava em HQs, filmes, séries e vídeo games. Acabei ficando com um pé atrás achando que ia ser uma salada mista de um monte de coisas, meio que atirando para todos os lados para ver se alguma coisa dava certo.

As obras que Zago afirma ter usado como referências são muitas: livros do Lovecraft, filmes como Um Lugar Silenciosos, O Nevoeiro e Madmax, bem como o jogo The Last Of Us. Eu ainda colocaria aqui Eu Sou a Lenda, Stranger Things, Independence Day, O Fim da Infância e muitos outros que, provavelmente, também se inspiraram nas mesmas referências em que Ogiva se pauta. O legal é que você consegue sim pescar essas referências e relacioná-las com o seu repertório sem ficar chato.

O mesmo erro

Existem clichês? Sim, mas nada muito grave. No final, um fato voltou a me incomodar. [OLHA O SPOILER. FOGE DAQUI!!!] Por um determinado motivo, Pilar não consegue reencontrar Sara e acaba enviando uma outra personagem, que encontra a menina no mesmo lugar em que ela havia sido deixada pela protagonista (qual a probabilidade de alguém em um mundo pós-apocalíptico ficar parado no mesmo lugar?) Novamente a menina confia sem pestanejar em alguém que ela nunca viu na vida.  Depois de tudo que a garota passou, custo a acreditar que de fato isso aconteceria. Isso foi o ponto de maior fragilidade para mim.

Creio que a menina precisava ser mais madura e mais questionadora naquele momento da história. Em conclusão: a única personagem um pouco mais aprofundada é a Pilar. Os outros são bem planos. De qualquer forma, acho que Ogiva ganha pelo somatório geral de entretenimento e é um bom começo. O universo merece ser estendido.

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77%
77%
Bom

Título: Ogiva
Autor(a): Bruno Zago e Guilherme Petreca
Editora: Pipoca & Nanquim
Ano: 2020

  • Narrativa
    8
  • Enredo
    7
  • Desenvolvimento
    7
  • Clímax
    7
  • Arte
    10
  • Originalidade
    7
  • User Ratings (1 Votes)
    5.2
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Felipe Paiuca

Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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