Resenha – O Bicho-da-seda, de Robert Galbraith

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O Bicho-da-seda
O Bicho-da-seda é o segundo volume da saga protagonizada pelo detetive Cormoran Strike

Fala pessoal! Aproveitando o ensejo do anúncio feito pelo autor Robert Galbraith sobre o término da produção de Career of Evil (Carreira do Mal, em uma tradução livre), terceiro volume da série protagonizada pelo detetive Cormoran Strike, decidi resenhar para vocês umas das milhas leituras mais recentes, O Bicho-da-Seda, de autoria dele mesmo, o pseudônimo de J. K. Roeling.

Vale lembrar alguns detalhes antes que você comece a ler minhas sinceras opiniões (sim, eu disse sinceras porque apesar de alguns acharem, o autor – SIC. autora – destes livros não é intocável) que O Bicho-da-Seda é o segundo livro policial de Galbraith, sendo o sucessor de O Chamado do Cuco, que por sinal já tem resenha (dupla) aqui no Capitulares. Corre lá se ainda não leu (http://migre.me/pETsc).

Seis meses depois

A leitura de O Bicho-da-seda começou um semestre após a conclusão de O Chamado do Cuco. Se você leu ou releu aquele link ali de cima – olha só, ele ainda está lá pedindo para você clicar nele – sabe que considerei diversos pontos fracos e fortes na história. Atribuí os escorregões da narrativa ao fato de aquele volume ser o primeiro de uma saga e obviamente não tive a mesma paciência com a segunda parte.

Esperava o aprofundamento de personagens-chave, mais dinamismo nos acontecimentos e uma solução conjunta do grande mistério que conduz o enredo envolvendo Cormoran, o detetive protagonista, Robin, a assistente que co-estela toda essa história e eu, o próprio leitor que colocava fé no calhamaço de papel que tinha nas mãos.

Um cenário promissor

Robert Galbraith é o pseudônimo de J. K. Rowling, a criadora da saga Harry Potter

De fato, O Bicho-da-seda traz uma estrutura narrativa capaz de atrair qualquer maníaco por livros. O mistério da vez é o desaparecimento de um escritor “quase frustrado”. O caso chega ao conhecimento de Cormoran por meio da esposa do romancista que começa a se preocupar com a ausência do dito cujo.

A partir daí, o nosso detetive se vê envolvido com um mundo completamente estranho ao seu dia a dia – mas que encanta os bookworms –, o mercado literário londrino. Escritores consagrados, editores, empresários, agentes literários (isso não é comum por aqui) e autores independentes surgem aqui e ali nessa história para ajudar a montar o quebra-cabeça.

Vamos falar de coisa boa

O estilo de escrita de Galbraith é reconhecível deste a primeira página. Descritivo e detalhista, a primeira vista tudo parece OK. Outra coisa que me fez ficar muito contente e que era uma das minhas demandas desde o primeiro volume é que a personagem Robin é mais explorada. Ficamos sabendo mais sobre seu relacionamento, sua família e até mesmo sua história, dando mais profundidade a ela e colocando-a de fato ao lado de Cormoran.

Por consequência, como um desdobramento deste ponto positivo, quem também ganha mais nitidez na trama é o noivo da co-protagonista, Matthew. Como entramos mais afundo no mundo de Robin, somos colocados na presença deste coadjuvante que parece ter potencial para ganhar ainda mais espaço nos próximos livros.

Cormoran por sua vez, que tinha tomado boa parte das páginas do primeiro volume para sofrer por sua ex-noiva, segue fazendo reflexões de sua vida pessoal, mas de uma maneira mais moderada e sem aporrinhar tanto o leitor.

Agora, vamos falar de top… tec… aquelas encheções de saco

O Chamado do Cuco é o primeiro volume da saga de Cormoran Strike

Se em O Chamado do Cuco Strike era um fracassado, obviamente que agora isso mudou. Por este motivo, além do caso principal, o detetive também é obrigado a investigar diversos outras traminhas que em minha opinião só serviram para atrapalhar o andamento da história.

Quase sempre que uma grande revelação acontecida, o capítulo seguinte cortava a fluidez do texto levando o leitor para outro trabalho de Cormoran, geralmente envolvendo traições conjugais, que não tinham nada de interessantes.

E aquela descrição apurada e detalhista da J. K. que a consagrou me incomodou mais uma vez neste livro. Como disse na resenha de primeiro livro, muitas vezes a minúcia na explicação de sentimentos, expressões, ações e ambientes te enchem o saco e fazem com que a história agarre e não flua como deveria.

Vi o Gabriel, do vlog Cabine Literária, dizendo que achou interessante o modo como o escritor localiza o leitor e os personagens dentro da cidade de Londres, fazendo com que ele (o vlogueiro) se recordasse de vários pontos pelos quais passou quando fez uma viagem para lá. Nunca fui para a capital da Inglaterra, então não tenho como ter essa identificação comentada pelo colega, mas a minha experiência pessoal na verdade foi negativa. Muitas vezes achei a descrição de tais pontos geográficos da metrópole dispensáveis e enfadonhas.

O blá, blá, blá sem fim

Ah, as conversas, os interrogatórios e… minha paciência acabou. Robert Galbraith persistiu em um dos principais erros de O Chamado do Cuco. Diálogos longos, cheio de detalhamentos e praticamente seguidos. A soma de tudo isso faz você pensar na Galinha Pintadinha depois de alguns parágrafos de conversas.

Um artifício que talvez o autor tenha tentado utilizar para tornar as coisas mais interessantes durante esses momentos de interação entre detetive e testemunhas é a quebra da formalidade. No livro um Cormoran de fato interrogava os personagens envolvidos com o caso. Desta vez, ele levou a maioria destes momentos como conversas normais. Inclusive, não me lembro dele usar o famoso bloquinho de anotações.

To be continued

Autora planeja uma série de livros para a saga policial

O que também persiste em O Bicho-da-seda é o estilo faça você mesmo de Cormoran. Mais uma vez as informações são jogadas e o leitor que faça todo o trabalho de juntar as peças para solucionar o mistério, pois o autor só vai revela-lo de verdade lá pelas últimas 50 páginas. O detetive não compartilha pensamentos profundos sobre o caso com o público e, um fato interessante, nem mesmo com sua assistente.

Em diversos momentos Cormoran faz Robin repetir e repetir processos de investigação para que ela mesma forme sua teoria. Em nenhum momento, a não ser no final, ele ajuda a coitada a entender toda aquela montanha de informações coletadas.

Tô parando por aqui?

Na verdade não. O final de O Bicho-da-seda (a conclusão) foi perfeito. Eu me surpreendi com a solução do caso, diferentemente do que aconteceu em O Chamado do Cuco. Além disso, existe um quê de ação e dinamismo nas últimas páginas que me conquistou.

Como não é possível chegar ao outro lado da rua sem atravessá-la, pretendo continuar lendo esta série e ainda coloco fé em Galbraith que em Career of Evil as coisas vão melhorar.

Ficha catalográfica:

Título: O Bicho-da-seda

Título original: The silkworm

Autor: Robert Galbraith

Editora: Editora Rocco

Páginas: 464

Onde comprar:

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Felipe Paiuca

Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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