(Resenha) Não Faz Sentido: Por trás da Câmera, de Felipe Neto

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Tem gente que adora e tem gente que odeia o autor do livro que vou resenhar a seguir. A obra deste mês é “Não Faz Sentido: Por Trás da Câmera” do ator, vlogueiro e empresário Felipe Neto (sim, aquele cara de óculos que há um tempo falava mal de Crepúsculo, gente colorida e um bando de outros temas).

Bom, o fato é que aquele cara que esbravejava opiniões no YouTube era um personagem criado pelo ator que na época estava passando por alguns problemas em sua vida. E é nessa hora que eu penso que a Chiquinha estava certa, pois “da escuridão nasce a luz”, pois foi naquele período que começou o canal que modificaria o jeito de produzir conteúdo para o site de vídeos no Brasil, o Não Faz Sentido.

Primeiros contatos

Eu “conheci” o Felipe Neto da mesma forma que a maioria das pessoas, por meio do vídeo “Não Faz Sentido – Crepúsculo“. Já da primeira vez que o vi, me revirei em frente ao meu Desktop (sim ainda utilizava aqueles de tubo) de tanto rir. De cara virei fã e comecei a assistir todos os vídeos que ele já havia postado no vlog e depois disso esperava ansiosamente pelos próximos.

Claro que ele me influenciou muito. Hoje, acompanho não apenas o Não Faz Sentido (que já está bem inativo), mas também o próprio Parafernalha, Porta dos Fundos, Nostalgia, Cabine Literária, Tríplice Literária, Índice X, Minha Estante e Tiny Little Things, além de alguns canais americanos e do vlog pessoal do Felipe Neto. Então era mais do que óbvio que eu ficaria extremamente interessado em conhecer a história por trás desse canal que abriu um novo mundo de conteúdo para mim. Quando soube do livro, ainda em 2013, quis logo comprá-lo, mas preferi esperar até 2014.

Do online ao offline

Quem ficou responsável pela edição foi o selo Casa da Palavra da Editora Leya. O trabalho gráfico é impecável, preciso dar parabéns a toda equipe de fotografia e diagramação, pois conseguiram transportar toda a comunicação visual criada pelo vlogueiro e já conhecida pelo público para a mídia impressa.

As páginas são amareladas, o que facilita a leitura. Algumas partes da capa receberam verniz, as orelhas são gigantes e até mesmo as partes de trás da capa e da contracapa recebeu a atenção dos designers.

Página um…

O livro te fisga logo no começo. O “pré-prefácio” escrito por Flavio Augusto da Silva, fundador da Wise UP, é empolgante e te ajuda a compreender o que é esse mercado da internet. O conteúdo se complementa com o prefácio de Rafinha Bastos, que também foca nesse segmento, permite que o leitor tenha uma noção de como Felipe Neto contribuiu para o desenvolvimento dos canais brasileiros no YouTube.

Quando o livro começa, você fica um pouco desconfiado. Será que ele mesmo escreveu isso ou utilizou um ghostwriter (artifício tão comumente usado em autobiografias)? Essa dúvida é quebrada logo, pois o jeito como Felipe escreve é exatamente do jeito como ele fala.

O autor busca demonstrar que aquilo, em sua essência, não é uma autobiografia, mas que precisa falar um pouco de sua vida. Vida que por sinal é muito interessante. Ele conta sua história, como nasceu sua paixão pelo teatro e quais eram suas frustrações, que foram fundamentais para o seu sucesso.

 O plot

Após essa breve introdução, ele entra de fato na história do Não Faz Sentido e isso te faz dar muitas risadas. É impressionante como as pessoas pensam uma coisa sobre alguém (incluo-me neste grupo) e na verdade a história é muito menos risadas e muito mais suor. Ri alto em diversos trechos, que não vou contar aqui para você não reclamar de spoiler.

É empolgante ler esse livro. Você fica querendo a cada capítulo saber mais sobre os bastidores de cada vídeo e da própria vida do autor. Outro ponto incrível é que você pode acessar os vídeos dos quais ele fala pelos QR Codes ao final de cada capítulo. Então você compreende tudo aquilo que envolveu a produção daquele conteúdo e pode assistir a tudo com outros olhos.

Gratidão é fundamental, mas…

No decorrer da história, Felipe cita diversas pessoas que foram de extrema importância em sua vida profissional, como dono da Wise UP, as profissionais da agência DNA e alguns outros. Coisas normais, afinal todo mundo deveria ser grato àqueles que deram uma força lá no começo de tudo.

O problema é que esses personagens reaparecerem na história constantemente e o autor rasga elogios para tais personalidades em boa parte das passagens. Coisa que muitas vezes torna a história enfadonha e você se pergunta, Por quê?

Outro fato é que apesar dele dizer logo nas primeiras páginas que essa não é uma autobiografia, pois considera que ainda não tem bagagem suficiente para uma coisa dessas, o livro acaba em boa parte se distanciando do Não Faz Sentindo e mergulhando na vida do autor.

Posso até entender que as histórias do Felipe Neto e do Não Faz Sentido se misturam, porém você se sente de fato lendo uma biografia, apesar, é claro, dele passar por cima de informações que seriam de extrema importância em uma obra do gênero.

O fato é que depois de um tempo o canal do YouTube volta para a história, mas logo é engolido por outro projeto do autor, a Parafernalha. Nas últimas páginas, o canal que deu vez e voz a Felipe Neto vira um mero coadjuvante.

Mania de grandeza

http://fernandaschein.com/wp-content/uploads/2014/01/bdg06.pngEm um dos capítulos, Felipe Neto cita que seu pai sempre lhe disse que ele tinha mania de grandeza. Isso pode ser evidenciado do começo ao fim da obra. De início, quando ele começa a contar como foram os primeiros vídeos do Não Faz Sentido, ele relata como as visualizações cresciam vertiginosamente, como aquilo o empolgava e como foi importante para a internet brasileira.

Quando estamos falando dos três primeiros vídeos comentados tudo bem, mas isso ocorre em todos os vídeos citados no livro ou pelo menos com a imensa maioria.
Toda vez que ele comentava sobre um dos vídeos, lá estava ele falando das visualizações crescentes, dos comentários e de como isso mexia com as redes sociais, com a mídia e como seu nome ficava nos TTs do Twitter por longos períodos. É como ver alguém jogar confete para cima e entrar embaixo.

O mesmo acontece quando a Parafernalha surge na história. Tudo é inovador, revolucionário e isso e aquilo. Mais confete para o alto. Não estou dizendo que ter orgulho e reconhecer que seus próprios feitos foram de fundamental importância para o mercado em que você atua seja ruim. Não estou pregando a falsa modéstia. Apenas acho que é possível fazer com que o seu leitor entenda a importância das suas atitudes sem que você precise dizer que tudo foi DO CARALHO.

Fui pegar chocolate e voltei

Em alguns momentos acredito que o ego tenha falado tão alto que o próprio Felipe Neto conta quanto dinheiro tinha em sua conta corrente (por favor, nunca façam isso!). O dinheiro é dele, a vida é dele e a informação que ele coloca à disposição do público também, porém penso que esse tipo de dado não era desnecessário.

O livro termina falando de outra empresa do ator, a Paramaker. Mais uma vez o autor utiliza expressões como milhares, dezenas e outras grandezas para enaltecer seu próprio trabalho.

Recomendo a leitura do livro, apesar dos problemas apontados. A história é muito interessante e você poderá sim, se inspirar e rir muito (é muito mesmo). E você que já leu, o que achou? Deixe sua opinião nos comentários.

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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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