ATENÇÃO: Para entender melhor a resenha a seguir – Jogos Vorazes: Em Chamas -, sugerimos que você leia o post anterior com a resenha do primeiro livro (Jogos Vorazes) e da adaptação cinematográfica aqui.
Do ponto de onde parou
A história tem inicio após a vitória de Katniss e Peeta na 74ª edição dos Jogos Vorazes. Esse triunfo corajoso do casal é um fenômeno aos olhos do público, tanto os ricos da Capital quanto os pobres dos distritos, porém, essa conquista serviu de impulso para uma guerra silenciosa entre Katniss e Snow (presidente da Capital).
Durante a primeira parte do livro, dividida em três, Katniss e Peeta são enviados para todos os distritos para divulgar o triunfo e sucesso do último jogo. Embora a ideia da Capital fosse transmitir a mensagem de que o casal do momento estaria do seu lado, todos os habitantes da Capital entenderam o recado de Katniss no final do último jogo, a decisão está em nossas mãos.
Esse é o estopim para Snow jogar as cartas na mesa e decidir o destino da heroína e anunciando um novo jogo, o Massacre Quaternário, evento que ocorre de a cada 25 anos, reunindo antigos vencedores dos Jogos Vorazes anteriores. Claro, Katniss é a única mulher do distrito 12, e os plano de Snow são óbvios, acabar com a raiz do problema.
Escrita e repetição de ideias
Suzanne Collins faz um bom trabalho no início do livro construindo as consequências dos acontecimentos do último jogo e estabelece um conflito muito rico, desmembrando a ideia estabelecida no primeiro livro, sobre o estado opressor, a mobilização social e virada de ponto de vista dos mais pobres sobre a atual situação social de Panem. Tudo já estava estabelecido e a autora consegue organizar bem essa premissa, pelo menos até o anúncio do novo jogo.
A construção de uma rua sem saída para tentar eliminar Katniss é boa, mas a repetição de cenário não é dos mais criativos. Mesmo incrementando novos personagens e explorando pequenas “quests” durante o jogo, Suzanne acaba simulando o que já tinha feito no livro passado, criando situações limites para chegar até o clímax da história.
Quanto entretenimento, é justificável, mas ficou claro que a autora tinha potencial para expor mais ideias, ou enxugar o enredo, criando mais coesão narrativa. Não que esse meio prejudique a leitura, mas nivela por baixar toda a construção de atualizar conceitos que serviram de inspiração para a autora, no caso o 1984, de George Orwell.
Outro ponto terrivelmente chato e compreensível da jornada de Katniss é o romance. O triangulo amoroso entre a protagonista, Peeta e Gale delonga pensamentos e questionamentos bobos. Sim, o livro é destinado ao público jovem adulto e a situação pede para que os personagens jovens tenham essas atitudes, então esse tipo de crítica varia para cada leitor.
Virtude inegáveis
A relevância da obra para o público jovem de hoje é inegável. A atualidade que o texto de Suzanne carrega é muito forte e positivo para jovens leitores. A construção da ideia de opressão, a revolta popular com a imagem de rebeldia de Katniss e os desdobramentos políticos carregam uma importância muito relevante nos tempos atuais, ainda mais no Brasil em 2015.
O grande triunfo da autora foi justamente suas inspirações, mencionadas na resenha do primeiro livro (clique aqui), mas a aceitação do público para esse tipo de história também é importante. Mesmo com os tons de ficção, a relação entre público e obra é inquestionável, por isso do sucesso e prestígio da obra na literatura e nas suas adaptações.
Um caminho chatinho, mas vai passar
Passar por esse segundo livro pode ser cansativo, repetitivo ou arrastado, mesmo que alguns se arrependam, a obra conseguiu manter sua mensagem principal coerente, mesmo dando uma pausa para mais um dos jogos vorazes.
Passando desse ponto, posso dizer que o final é “ok”. O livro não acaba em uma resolução, ele solta um gancho para a última parte da história, criando a empolgação e expectativa no leitor.
A adaptação de Jogos Vorazes: Em Chamas
O filme teve o prazer de melhorar alguns pontos narrativos e amenizar outros. Toda a construção de mobilização social e infelicidade por parte dos distritos é otimizada no longa metragem. Muitas vezes, por Suzanne usar o recurso de escrever em primeira pessoa, diversos fatos que ampliariam a narrativa acabam se perdendo, por exemplo, a cena em que vemos destruições e agressão pública em alguns distritos no filme, enquanto no livro ficamos presos aos olhos da protagonista.
Outra mudança relevante é a parte visual, claro. Algumas cenas durante os jogos vorazes não ficam claras ou são explicadas de forma confusa ao leitor, problemas que visualmente o filme resolve com facilidade, ainda mais na explicação do plano de Katniss e sua turma para sair do jogo.
O filme muda um pouca a linha do longa anterior no quesito produção. Aqui vemos que a franquia tem mais dinheiro, aplicando bons efeitos visuais, melhor construção de cenários e boa direção na ação, mudança também na direção, saindo Gary Ross e entrando Francis Lawrence, que se mantém até o final da franquia cinematográfica.
O final é similar ao livro, quase uma reprodução fiel, com o desfecho em aberto para uma continuação, mas que deixa o espectador na procura ansiosa de mais informações sobre a história. Um filme mais coeso que o livro, mesmo que reproduzindo alguns erros, inevitáveis do material original, mas que diverte e transmite com fidelidade a mensagem do livro.