Resenha dupla – A Culpa é das Estrelas, de John Green (livro + filme)

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Edição brasileira original

Nascido na cidade de Indiana (estado de Indianápolis), criado em Orlando (Flórida), e formado em inglês e estudos religiosos, John Green é atualmente um dos autores YA (Young Adult) mais queridos no mundo literário e um dos vloggers mais acessados da atualidade (confira o canal no YouTube).

Com cerca de seis obras publicadas, o escritor ficou mais conhecido aqui no Brasil após o lançamento de “A Culpa é das Estrelas”, obra que está na lista dos livros mais vendidos da Revista Veja a cerca de 62 semanas, editado pela Intrínseca.

Um YA como qualquer outro?

A obra conta a história de Hazel Grace Lancaster, uma adolescente que foi diagnosticada com um câncer terminal quando ainda tinha 13 anos. Vivendo uma rotina bem diferente de meninas da mesma idade, a garota tem consultas médicas regulares, passa boa parte de seu tempo assistindo reality shows, dormindo, lendo sempre o mesmo livro e frequentando o tedioso grupo de apoio.

Hazel permanece assistindo sua vida passar por seus olhos até conhecer Augustus Waters, um garoto da mesma faixa etária que mexe com ela e pelo que tudo indica pode mudar sua rotina de anos.

O livro fez tanto sucesso pelo mundo que em 2014 ganhou uma versão cinematográfica. É sobre essas obras, a literária e a do cinema, que a gente vem falar hoje. Confira a opinião de dois Capitulares sobre a sensação do momento em nosso próprio Grupo de Apoio pós “A Culpa é das Estrelas”.

Nome: Felipe Paiuca

Idade: 22 anos

Diagnóstico do livro e filme: Positivo

Como eu estou hoje (avaliação das obras): Saliento que li a obra na versão original e me surpreendi com a fluidez da leitura. “The Fault In Our Stars” tem uma linguagem simples, mas com um conteúdo que consegue passar todo o sentimento dos personagens para leitor.

Da esquerda para a direita: capas americanas ( baseada no filme e original)

O enredo tem como base uma trama já conhecida para os livros YA, um casal que se apaixona e passa a viver diferentes experiências a partir daí, porém existe algo diferente. O fator câncer traz uma mensagem importante ao público e uma nova visão sobre as pessoas que tem a doença. Os personagens não se apresentam como vitimas. Eles buscam objetivos e desejos, mostrando que sim, também existe uma vida fora do hospital.

Todas essas características se mantiveram na adaptação cinematográfica. O casal principal conseguiu carregar muito bem ambos os personagens, salvo algumas poucas cenas. A fluidez de leitura se refletiu no dinamismo da edição. Em um contexto geral, a versão dos cinemas seguiu a proposta do livro e não deve decepcionar os fãs de John Green.

O bom humor surpreende. Quando você lê a sinopse e descobre que a protagonista de um livro sofre de uma doença tão grave, você logo pensa em uma profunda tristeza. É claro que “A Culpa é das Estrelas” se trata de um drama, mas a primeira parte do enredo é cuidadosamente elaborada de uma forma que proporciona muitas risadas.

E quem ganha destaque no filme com relação a risadas é Ansel Elgort, ator duramente criticado na época em que foi escolhido para o papel de Augustus Waters. Ele conseguiu levar para as telas o mesmo personagem das páginas do livro e materializou a personalidade confiante e engraçada contida nas falas e nas atitudes do co-protagonista.

Como eu disse, o livro é um drama e não tem drama feito apenas de risadas. As situações em que todos os personagens se envolvem, quase sempre devido à questão saúde, são extremamente comoventes. A obra literária mostra estes momentos de uma forma bem delineada. É possível perceber com muita clareza as partes felizes e tristes do enredo.

Esta característica acabou se perdendo um pouco no audiovisual. Também é possível perceber estes momentos, porém devido às expectativas para determinadas cenas, às limitações da produção de um filme e seu elenco, podemos dizer que houve uma diminuição dessas viradas. Apesar de tudo, a história não deixa de te comover.

A conclusão do enredo é um paradoxo. Consegue ser evidente e surpreendente. A verdade é que você já começa a leitura sabendo de um desfecho e “quando você chega na página 15” isso sofre uma pequena transformação.

Não posso dizer que o filme também é previsível, porque eu já sabia o desfecho. O que me incomoda na verdade é o trailer. Se você tem uma mínima noção da história ou está lendo a obra e pretende ver o filme, sugiro que evite esse vídeo. Ele guarda um TREMENDO de um spoiler nos últimos segundos (você que já leu ou viu o filme e conhece o final, por favor, me diga se eu estou errado).

Meu comentário final é sobre a exclusão de algumas cenas que não são fundamentais para a história, mas que compunham toda uma situação no livro. Devido a estes cortes o personagem Isaac acabou diminuído, o que me incomodou um pouco.


Nome: Joyce Hiromi

Idade: Tenho 23 anos, e sim já sinto dores nas costas.

Diagnóstico do livro e filme: Positivo e choroso.

Como eu estou hoje (avaliação das obras): Apesar de não ter câncer, achei bacana começar uma resenha como estando num Grupo de Apoio. Como estou hoje? Desidratada para sempre, conta? Vou explicar o porquê…

Li o livro “A Culpa é das Estrelas” em 2012. Lembro que chorei compulsivamente e fiquei com dores de cabeça por refletir a mensagem da história. Foi uma leitura rápida e dolorosa, como arrancar um Band Aid já a muito tempo fixado na pele e principalmente em locais agraciados com pelos. O livro na época era a uma promessa literária que tinha nome e sobrenome, John Green (João Verde para os mais chegados). Ahhhh, esse cara… Autor de “Cidades de Papel”, “Quem é Você Alaska?”, “O Teorema Katherine”, “Will e Will” e co-autor em “Deixe a Neve Cair”. Seu chamariz? Escrever obras young adults diferenciadas, dar ênfase para personagens secundários e trabalhar com a mescla de metáforas filosóficas e poéticas muito sensíveis.

Do papel aos telões
Surpresa que a obra literária mais vendida tenha virado filme? Acho que não. Não houve espanto algum quanto sua estreia se manteve como a mais vista no Brasil e que a venda de bilheteria tenha sido um sucesso nacional e internacional. Mas vale tudo isso? Sou suspeita para falar, visto que já assisti ao filme por duas vezes (dias 5 e 9 de junho). Porém, aos que já foram aos cinemas também, podemos concordar que o filme mereceu o que vem alcançando. A adaptação se mostrou fiel em diversos momentos e para a felicidade dos fãs possui diálogos “cuspidos” diretamente do livro, quase que sem edição nenhuma.

Cena do filme “A Culpa é das Estrelas”

As atuações principais de Hazel e Gus – interpretadas por Sheilene Woodley e Ansel Elgort – foram um tanto perfeitas demais que até se desconfia terem saído diretamente das páginas da obra literária. Apesar de modificar alguns detalhes físicos, creio que ninguém venha reclamar de tais atuações. Como de praxe, Ansel rouba a cena e se transforma no melhor Gus possível e inimaginável. O encaixe e a rapidez com que o ator vestiu nosso eterno Augustus Waters fizeram com que meus dois ingressos valessem a pena, não digo isso por achá-lo “bonitinho” e sim por não conseguir imaginar outra pessoa no papel. Já a realista Sheilene na pele de Hazel torna o filme algo agradável de ser visto, traz uma sensibilidade e comoção que “aflora” na pele arrepiada dos cinéfilos.

John Green

O roteiro
Diálogos fortemente “cuspidos” com situações adaptadas e até melhoradas foram a marca cinematográfica de “A Culpa é das Estrelas”. O longa-metragem conta com 2h05min e traz uma divisão invisível com duas partes principais: você vai rir, e depois vai chorar (essa mesma analogia é feita por Markus Zusak, de “A Menina que Roubava Livros” para a obra literária de John Green). A análise certeira de Markus é tecida na construção da trama. Para a divisão engraçada, a produção cinematográfica se utilizou especialmente da atuação de Nat Wolff, no papel do cômico Issac e a mãe de Hazel, Sra. Lancaster interpretada por Laura Dern. Num todo a formula também se fortaleceu por meio dos protagonistas com o humor irônico de Hazel e Gus em brincarem com o fato das próprias doenças e limitações com discursos sagazes.

Já as segundas partes das obras reservadas ao choro acabaram por me surpreender, pois o que poderia ter sido integralmente conduzido em ressaltar a doença do câncer, veio em forma de mostrar a força do amor mesmo estando inserido em uma situação delicada. O foco foi claramente explanar o como este sentimento mudou duas pessoas e dois mundos que acabaram por colidir enquanto estavam quase sem vida.

Ficou de fora
Em comparação ao livro, algumas coisas tiveram que ser modificadas na adaptação para o cinema, tais como: mudança de cenários e situações, inexistência de alguns personagens e histórias. Contudo, tudo isso fez com que a relação Hazel e Gus tivesse mais visibilidade e crescesse a cada filmagem, tornando o produto final um drama focado nos protagonistas. Senti falta apenas de um pai mais chorão por parte do Sr. Lancaster, em que na obra cinematográfica aparece como o durão e maduro sob a atuação de Sam Trammell.

Curiosamente o autor do livro “A Culpa é das Estrelas” também fez uma participação no filme, porém a cena acabou sendo deletada e só fará parte dos DVD’s e Blu Ray’s.

Ficha catalográfica

Título: A Culpa é das Estrelas

Título original: The Fault in Our Stars

Autor: John Green

Editora: Intrínseca

Ano: 2012

Páginas: 288

ISBN: 9788580572261

 

Trailer do filme (contém spoilers):

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Formada em jornalismo e turismóloga, lê de tudo um pouco, é viciada em seriados/animes e compra mais livros do que consegue ler – piorou na era dos e-books. Na listona de futuras leituras sempre terá livros de: não-ficção, distopia e muitos de romance – esse último é pra tentar adoçar a vida. Além disso, o amor por autores favoritos já me fez passar horas em filas de sessão de autógrafos, assistir vídeos de entrevistas e 'stalkeá-los' (de leve) nas redes sociais – inclusive a Jojo Moyes é incrível no Twitter!

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