“O que eu poderia dizer a você, Catarina? A verdade? A verdade você já sabia, você tinha acabado de descobrir. As pessoas quebram. Até as meninas quebram. E, se as meninas quebram, você também pode quebrar. E vai, Catarina. Vai quebrar. Talvez não a perna, mas outras partes de você. Membros invisíveis podem fraturar em tantos pedaços quanto uma perna ou um braço. E doer muito mais. […]
Viver, Catarina, é rearranjar nossos cacos e dar sentido aos nossos pedaços, os novos e os velhos, já que não existe a possibilidade de colar o que foi quebrado e continuar como era antes. E isso é mais difícil do que aprender a andar e falar. Isso é mais difícil do que qualquer uma das grandes aventuras contadas em livros e filmes. Isso é mais difícil do que qualquer outra coisa que você fará.”
Foi este momento que Eliane Brum dividiu com os leitores de sua coluna semanal – postadas entre 2009 e 2013, no site da Revista Época -, sua confissão de como o mundo pode e será doloroso para as vidas que aqui “se quebram”. Claro que o trecho acima nada mais foi que um diálogo interno da autora, pois Catarina tinha apenas um ano e oito meses de vida. Nestes quase dois anos de existência, Catarina se chocou com uma menina quebrada, dando voz às reflexões de sua madrinha, Eliane, e palavras para a coluna publicada em 28 de janeiro de 2013.
Na coluna, descobrimos que o horror pela menina quebrada, avistado pela primeira vez por seus olhos, não passava de uma perna fraturada e engessada. Ao invés de contar a verdade nua e crua, transcrita acima, Eliane optou por falar à pequena afilhada: “A menina caiu, a perna quebrou, agora a perna está colando, e depois ela vai voltar a ser como antes.“
Essa foi a primeira vez que a colunista mentiu para Catarina, e o texto de Eliane era apenas uma de suas 64 colunas que foram compiladas na obra A Menina Quebrada.
As outras colunas de Eliane Brum
Eliane Brum. Vocês leitores deveriam guardar esse nome e, com toda a certeza, deveriam ler cada coluna – anteriormente disponíveis no site da Época e atualmente escritas para o El País Brasil -, cada reportagem, livro e, até mesmo, os tweets e postagens no Facebook da jornalista. Sério. Vale qualquer texto dela.
Vocês podem estar pensando: “mas o que essa jornalistazinha tem de diferente? Deve ser chata igual a todos os outros!“. Errado. No livro A Menina Quebrada, Eliane veste inúmeros personagens que vivem no mundo real. A intensidade que a gaúcha coloca em seus textos faz com que as pessoas, situações e momentos experimentados para a criação de cada coluna seja sinônimo de reflexões tanto para estas almas, quanto para as nossas. Dentre os 64 textos reunidos, o leitor é pego num mergulho que começa na vida do OUTRO e termina com um retorno à PRÓPRIA superfície. Eliane tem o poder de gerar mudanças no mundo e ela começa a fazer isso por meio de seus leitores. O livro é mais do que reflexões, suas opiniões fortes, informações bem apuradas e histórias que passariam despercebidas aos nossos olhos.
A Menina Quebrada é mais do que tudo isso. É inspiração e coragem para o leitor, que se não puder mudar o mundo, pode mudar a si mesmo de alguma forma.
Uma Menina Quebrada como eu e você
Lançada em 2013 pela Arquipélago Editorial, a obra é assinada pela gaúcha que atuou durante 11 anos como repórter no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), e dividiu sua intimidade e pensamentos em mais dez anos de colunas no site da Revista Época, em São Paulo (SP).
Atualmente é jornalista freelancer e dedica-se aos livros-reportagem e aos de ficção. Ela é documentarista – com destaque para os títulos Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada – e trabalha com colunas de opinião no El País espanhol e brasileiro.
Com A Menina Quebrada e outras obras, Brum já conquistou, no Brasil e no exterior, mais de 40 prêmios. A autora também já assinou um romance literário e três livros-reportagem. Alguns dos motivos para “consumir” o material textual de Eliane são maravilhosamente explicados no trecho de apresentação d’A Menina Quebrada:
“Escrevo porque a vida me dói, porque não seria capaz de viver sem transformar dor em palavra escrita. Mas não é só dor que vejo no mundo. É também delicadeza, uma abissal delicadeza, e é com ela que alimento minha fome. Desde pequena sou uma olhadeira e uma escutadeira, raramente uma faladeira, e vou engolindo as novidades com os olhos e com os ouvidos, sempre ávidos por mais.”
Ficha Catalográfica
Título original: A Menina Quebrada
Autor: Eliane Brum
Editora: Arquipélago Editorial
Páginas: 432
Onde comprar: Amazon
Um pouco mais sobre a obra:
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