Olá, leitor. Bem vindo a mais uma resenha, que neste caso, é a primeira sobre quadrinhos. Resolvi começar com um dos meus títulos favoritos, mas antes de começar a resenha, eu gostaria de deixar claro que essa é a primeira de muitas resenhas sobre a nona arte. A intenção é trazer resenhas regulares de quadrinhos. Bom, chega de enrolar e vamos para o que interessa.
Fome
Estamos falando de uma história de terror. As primeiras páginas são horríveis descrições de gula e desespero gráficos. Acompanhamos o fim de um homem chamado Henry, que está sofrendo de algum distúrbio que o faz comer tudo que está em sua frente, tudo mesmo. Essas cenas são bem horrorosas, devo admitir, mas este começo é o tom que a série vai tomar durante este arco.
Após essa apresentação bizarra, o leitor é conhece nosso “herói” John Constantine, que anda pelas calçadas de uma Londres fria, suja e deprimente. A primeira vista, Constantine não tem muita paciência para assuntos alheios e procurar ficar na sua, ao mesmo tempo em que o universo o procura para cuidar das piores problemas místicos possíveis.
John é avisado, pela sua vizinha/sindica, que um amigo veio visitá-lo em sua ausência. A primeira pessoa em sua mente é “Gary Lester”, descrito como o cara que traz problemas, deixando John com cara de poucos amigos. O problema começa quando ele vê indícios de que Gary realmente esteve ali e andou trazendo “sujeira” com ele.
Em uma passada rápida pela cozinha, John vê a pia entupida de pratos e copos imundos e repletos de insetos. A cena é um verdadeiro inferno na terra para qualquer dona de casa ou ser humano que more sozinho, que é o caso do injuriado Constantine.
A cena mais impressionante é quando John encontra seu amigo Gary no banheiro, desesperado e lotado de insetos, do pé a cabeça. É ai que o problema é apresentado ao protagonista e a história começa a se desenrolar.
John tenta amenizar ao máximo o problema do “amigo” e remete a situação a sua possível origem. A história de Henry lá no começo é ligada aos tais insetos que envolvem a praga sob Gary e começa a história do espírito da fome, o Mnemoth.
Assim de desenrola a jornada de John Constantine para frear o demônio da FOME, antes que ela devaste Londres e o resto do mundo.
Que história é essa?
Bom, parece confuso, né? Mas é exatamente assim que são as histórias do universo Hellblazer. Nada é mastigado, tudo fica a cargo do leitor mastigar e digerir cada balão ou referência. Constantine criado por Alan Moore, Steve Bissette e Totleben apresentado na revista do Monstro do Pântano (Swamp Thing issues 37 em Junho de 1985). Foi uma pequena participação, sua mitologia foi explorada em sua revista solo Hellblazer, de 1988, escrita por Jamie Delano e ilustrada por John Ridgway.
As histórias do Constantine são altamente influenciadas por contextos místicos, ocultistas e muita demonologia. Mas não se preocupe, não é tão macabro assim. Tudo é bem desenvolvido e contextualizado com a época dos anos 80, como o HIV, a ascensão dos yuppies, a situação econômica da Inglaterra e um pouco do submundo skinhead.
A atmosfera dessas histórias reunidas neste primeiro arco foi feita para agredir o leitor. A arte, cheia de hachuras, mostra degradação humana perante uma praga e apresenta o quão perturbadora é a vida de John e seu passado obsuco.
Mais uma vez, o texto não é amigo do leitor. Claro, se você já tem uma bagagem anterior com livros mais politizados, vai ajudar. Mas o toque decadente que Delano coloca nos recordatórios e nas falas de John é o que faz as histórias de Hellblazer serem o que são: pesadas e aterrorizantes.
Está edição que foi resenhada é da Panini Comcs, lançada em 2011. Um encadernado cartonado, 196 páginas, papel pisa brite, pelo valor de R$ 19,90.