Para começar essa semana especial Jogos Vorazes, tenho que explicar que até dezembro de 2014 eu estava completamente a parte dessa onda distópica que tomou conta do mundo. Nunca havia lido e nem assistido nada sobre esse gênero.
No entanto, após o grande lançamento de A Esperança – Parte 1, em novembro daquele ano, decidi que era hora de tomar conhecimento deste Best-seller e me preparar para a estreia do filme final – um ano depois daquela época (mais conhecido como hoje em dia). Outro fator que também atiçou minha curiosidade foi um evento promovido pela Editora Rocco em São Paulo (SP). Neste dia, simplesmente saí do encontro, passei na livraria e comprei o Box americano em hardcover de The Hunger Games.
Até aquele momento, não tinha base para comparar Jogos Vorazes com nada do mesmo gênero. Isso porque, como falei anteriormente, esta foi minha primeira distopia. Entretanto, mais tarde li 1984, de George Orwell, e pude perceber que Suzanne Collins tirou muitas referências deste clássico.
Um detalhe interessante
Pude perceber que a própria tradução brasileira de Jogos Vorazes parece ter sido influenciada pela tradução brasileira do livro de Orwell. Esta percepção se deve ao fato de a Editora Rocco ter escolhido a palavra Tordo – uma espécie de pássaro existente na vida real – para transpor a palavra original Mockingjay – outra espécie de pássaro (que não existe da vida real) criada pelos mandatários de Panem (país fictício da série de Collins) que era capaz de ouvir conversar de subversores e retransmiti-las para agentes do governo.
Em uma das cenas de 1984, Will e Júlia, personagens que estão escondidos no meio da mata para transar (algo proibido no mundo de Orwell), percebem que um pássaro – um tordo, veja só – pousou em um dos galhos mais próximos. Estes ficam tensos e passam a imaginar se aquele pode ser um espião do Grande Irmão – líder opressor da Oceania.
O melhor
Se me perguntarem, não sei dizer se prefiro o livro um ou três de Jogos Vorazes. Todavia, seguramente posso afirmar que o segundo é o pior livro, apesar do filme ser fantástico. Para não cansar muito vocês, falarei apenas do volume um nesta resenha e no decorrer da semana os outros capitulares falarão dos próximos.
Jogos Vorazes nos apresenta Panem – um país fictício do futuro que se localiza na América do Norte. Esta nação é comandada pelo Presidente Snow e uma elite que vive na luxuosa e rica Capital – em inglês chamada de Capitol (clara referência ao parlamento americano localizado em Washington, o Capitólio).
Controlado com mãos de ferro por seus líderes, o povo de Panem que não pertence ao governo vive afastado da cidade do poder. As pessoas são divididas em 12 distritos (cada um deles responsáveis por produzir um bem que é de necessidade da Capital). Estes cidadãos passam por muitas dificuldades, entre elas a intensa opressão dos pacificadores (tipo de polícia do governo) e a falta de comida, que é controlada pela elite opressora.
A situação desta população foi agravada após uma histórica guerra civil entre o governo e o lendário 13º Distrito, que segundo a lenda foi vaporizado pelas tropas estatais. Depois do fim do conflito, os distritos restantes passaram a ser novamente subjulgados e desta vez com ainda mais rigor.
Para relembrar o povo dos horrores da guerra e dissimulá-lo a iniciar uma nova rebelião, Panem cria os chamados Jogos Vorazes, uma mistura de olimpíada e reality show em que 24 competidores (duas crianças ou adolescentes [um garoto e uma garota de cada unidade federativa]) são sorteados e oferecidos como tributos para a competição.
Eles são jogados dentro de uma arena de combate para que lutem até a morte uns contra os outros. Ao final da disputa, apenas um se sagra o grande campeão dos Jogos Vorazes. No primeiro volume da série, estamos às portas da colheita, processo de sorteio dos tributos, da 74ª edição do torneio. Logo nas primeiras páginas, conhecemos a protagonista Katniss Everdeen, seu melhor amigo (namorado) Gale, sua mãe e sua irmã Prim (que pela primeira vez terá o nome colocado no aquário de sorteio dos jogos).
O resultado de escolha dos tributos é desastroso para estes personagens. Katniss e Peeta, o filho dos padeiros da cidade, são selecionados para representar o Distrito 12. A partir daí tudo muda na vida deles e eles passam a lutar contra um destino que parece iminente.
Suzanne sabe fazer uma história
Jogos Vorazes é interessante por vários motivos. Entre eles pelo fato de ser uma história adolescente que mostra um mundo completamente detestável, algo bem diferente de outros livros do gênero YA. O realismo com que a autora trata a história é impressionante, pois ela realmente machuca seus personagens, descreve cenas violentas e deixa o sangue dos tributos rolar pelas páginas.
A história deste primeiro volume te prende tanto que uma expectativa nova surge a cada segundo. Primeiro você fica esperando pela colheita, depois pelo treinamento, em seguida pelas provas, mais tarde pela entrevista final televisionada e mais para frente pela entrada dos competidores na arena. Após a contagem regressiva na Cornucópia, é pauleira até o fim. Você dorme e acorda com a Katniss tenso, esperando pela próxima merda que vai acontecer. Passei madrugadas lendo isso.
A humanização dos personagens também é bem evidente. Cada um deles desperta um sentimento diferente em você e faz com que surja a necessidade de questioná-lo e xingá-lo em alguns momentos. Entretanto, há alguns pontos fracos utilizados para mudar o curso da história e dos jogos como [SPOILER] a mudança da regra para que dois tributos pudessem se tornar campeões da mesma edição do torneio. Creio que ela precisava ter elaborado uma desculpa melhor para esse plot twist.
Contudo, estes detalhes não desmerecem em nada as críticas a nossa sociedade e ao autoritarismo, a crítica aos reality shows e aos programas de TV que alienam as pessoas e impedem que elas vejam a verdade e também as críticas a corrupção e outros tantos temas que são retratados em uma Panem do futuro, mas que são vivenciados por nós mesmos nos dias de hoje.
A adaptação
Acho os filmes de Jogos Vorazes adaptações quase impecáveis. O fato de a autora ter sido roteirista de seriados de TV ajudou para que ela estabelecesse uma história bem imagética nos próprios livros, característica transportada de forma excelente para as telonas.
Obviamente que o livro é bem mais sangrento que o filme, mas esta mudança foi feita para não chocar o espectador, que obviamente não quer ver crianças cortando as cabeças umas das outras. Os atores foram bem escalados e conseguem carregar muito bem seus personagens, mas com alguns deles pode haver um estranhamento com relação às descrições do livro e a aparência apresentada no filme. Achei que a aparência do ator escolhido para o personagem Peeta muito velhaca.
Os efeitos especiais são um show a parte neste e nos outros três filmes da franquia. Quem curte ação talvez prefira mais o filme que o livro, pois o romance foi bem reduzido na hora de escrever o roteiro, diferentemente da versão literária que passa páginas e páginas mostrando o relacionamento entre dois personagens.
O resumo de tudo isso é que Jogos Vorazes é um bom livro e um ótimo primeiro passo para o mundo distópico da literatura (experiência própria) por ser menos denso que clássicos como 1984, mas de boa qualidade. Os filmes também são bem fieis (na medida do possível) e garantem ótimo entretenimento para um sábado chuvoso.