Bom trabalho em lembrar que nem todos são feitos de papel. O terceiro livro do queridinho dos adolescentes foi lançado pela Editora Intrínseca e acabou seguindo um pouco a “lógica” do Quem é você, Alasca? – primeira obra de John Green que deu a ele o Prêmio Michael L. Printz de 2006 da American Library Association. Por ser dividido em três partes, Cidades de Papel acaba instigando mais curiosidade no leitor e atrai a atenção de seu público alvo também ao inserir poesia dentro da historia.
Em Cidades de Papel, Quentin Jacobsen nutre uma paixão pela garota mais popular da escola, sua ex-melhor amiga de infância e vizinha, Margo Roth Spilgeman. Acompanhamos ‘Q’ na cidade da Flórida, próximo ao final do ensino médio e do tão esperado baile de formatura – esperado somente por seus amigos. Esta é basicamente uma fórmula de sucesso para alguns romances young adults (jovens adultos), mas como sempre John Green consegue elevar estes traços transformando clichês e histórias bobinhas em algo interessante e até reflexivo.
E o que um nerd e a garota mais popular têm em comum? Os dois foram criados praticamente juntos desde os dois anos de idade, e aos nove, Quentin e Margo encontraram o corpo de um homem. Intrigada pelo fato, a garota decide pesquisar por conta o motivo da morte e descobre que se tratava de um suicídio. A partir disto, Margo levanta uma interessante teoria, divide uma pequena relação de cumplicidade com Q e passa a amar mistérios.
Os fios e a sociedade de papel
Quentin e Margo agora têm 18 anos e se distanciaram conforme fora passando o período de infância. Ele se tornou um nerd, amante de videogames e com poucos amigos que conseguiríamos contar em uma mão – até o Lula consegue, juro. Já ela, é a garota mais popular da escola, tem o namorado bonito e um bando de amigos que agora o antigo presidente não poderia contar.
A distância que surgiu entre os dois acaba quando numa noite aquela mesma Margo, a aventureira dos nove anos de idade, aparece na janela de Q propondo a melhor noite de sua vida caso a ajude na realização de 11 itens de uma lista de “problemas”. Todo aquele sentimento de cumplicidade entre os dois volta forte com o plano de vingança que a garota planejou para uma madrugada cheia de diversão e nervos à flor da pele.
O livro narrado em primeira pessoa por Quentin. Nesta parte, o ponto de vista do garoto nos traz receios e inseguranças que se desenvolvem para confiança e esperança de que Margo o enxergue ao final da “missão”. Essa divisão é a parte mais divertida da obra com uma narração feita de forma simples, leve, com muitos discursos e descontração. As peripécias dos personagens contribuem para uma leitura tão rápida que nem é possível perceber o passar de diversas páginas e de não conseguir largar o livro para fazer alguma outra coisa.
E então empacamos dentro da relva
A segunda parte da obra mostra o que aconteceu no dia seguinte do plano vingativo de sua vizinha. A premissa de uma nova aproximação da garota faz com que Quentin pense ter chance para fazer seu amor florescer, mas ele se enganou. E muito.
Margo Roth Spiegelman some sem deixar vestígios. Os pais da menina não se preocupam tanto, pois ela já havia feito isso anteriormente. O que muda o cenário da história é que a garota antes de desaparecer deixa pistas de seu paradeiro para Quentin. Essa busca caracteriza toooooooooda a segunda parte – entenda o exagero de O’s como ironia para longa e cansativa.
A narrativa se mantém a mesma. Aqui conhecemos mais a fundo personagens secundários como Radar, Ben e Lancey. Contudo a leitura se mostra arrastada, irritante e com a busca por Margo acontecendo de forma um tanto enrolada. Criei antipatia pela chatice obsessiva de Quentin e queria socar (por diversas vezes) o Ben. John Green tem a fórmula de bolo de sempre criar alguns personagens secundários mais interessantes e cativantes do que o principal. Na obra isso ocorre com Radar e com a verdadeira Margo Roth Spilgueman, passando lições de seriedade e força da “alma”. Não digo que os outros personagens sejam mal construídos, só que são previsíveis e enfadonhos.
Dentro da relva a história acontece em longas 174 páginas. Descobrimos um lado oculto de Margo e o que significam as Cidades de Papel. O termo homônimo ao livro é a parte genial da escrita de John Green e deu um gás novamente a narrativa que estava um tanto caída. Outro ponto positivo é a similaridade com o QEVA? ao convidar a poesia para o enredo literário, isso consegue fisgar o leitor no sentido de tentar ajudar na busca com a solução dos “enigmas poéticos”.
O navio e as rachaduras
A terceira parte volta a se assemelhar ao dinamismo do começo do livro e faz com que os leitores a leiam de uma vez só. Além da narrativa que flui, os personagens estão mais divertidos e isso faz valer a pena não ter desanimado e abandonado a leitura já nas relvas. Ao invés de ser enumerada em capítulos, a última parte conta cronologicamente as horas (mais de QEVA?) até que após a 21ª algo muda e leva os leitores ao desfecho profundo e reflexivo da história.
Apesar do final previsível – com diversas dicas ao longo do livro – e de algumas partes do enredo serem um pouco forçadas, o autor consegue passar de forma clara e objetiva a mensagem por trás da história e também faz com que o leitor leve consigo algumas lições após a leitura completa da obra.
Capítulos nostálgicos:
Parte um – 6º e 8º.
Parte dois – 7º, 9º, 13º, 15º e 20º.
Parte três – capítulo final.
Depois de terminar a leitura, fui pesquisar mais sobre o livro e descobri algumas curiosidades em que John Green responde perguntas de leitores. Para os que já leram o livro, indico o vídeo abaixo (contém SPOILERS):
Ficha catalográfica
Título: Cidades de Papel
Título original: Paper Towns
Autor: John Green
Editora: Intrínseca
Ano: 2013
Páginas: 368
ISBN: 9788580573749