(Resenha) As Esganadas, de Jô Soares

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As Esganadas é o sétimo livro de Jô Soares, sendo o quarto romance policial de sua carreira. O autor dispensa apresentação. Ele está no ar de segunda a sexta-feira com seu programa – do qual sou telespectador – na Rede Globo e na Rádio CBN, e pode ser considerado o entrevistador mais conhecido da atualidade.

A carreira literária de Jô começou nos anos 1980 com O Astronauta Sem Regime (Editora Circulo do Livro), mas foi na década de 1990 que ele entrou no mundo das investigações criminosas. As Esganadas chegou às livrarias depois de seis anos sem que o autor publicasse uma obra.

O trabalho gráfico realizado pela Companhia Das Letras foi muito bem feito. A capa chama atenção e instiga a curiosidade. O papel utilizado é amarelado e facilita a leitura. Outro ponto positivo é a escolha da fonte. Sem a intenção de uma edição econômica em que as palavras são socadas nas páginas, as letras tem um ótimo tamanho. A editora também utilizou ilustrações que pontuam a história no decorrer dos capítulos.

A comilança

O livro conta a história de uma investigação policial que ocorre na cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1938 (mesmo ano em que Jô nasceu). Um assassino em série está atacando jovens moças que têm uma característica em comum, elas são rechonchudas. O detalhe é que diferentemente de outros livros policiais em que a graça da história é descobrir quem é o facínora, em As Esganadas esse mistério é revelado logo no primeiro capítulo.

Jô Soares é autor diversos livros

Ora, mas que coisa? Sim, o que te faz querer ler não é a descoberta da identidade do vilão, mas sim quais serão seus próximos passos, suas próximas vítimas e quais requintes de crueldade ele utilizará.

Apesar do serialkiller ser o personagem que move o enredo, quem protagoniza essa história é Tobias Esteves, português que veio para o Brasil depois de cometer um grave erro em seu país de origem. Inteligente, o personagem principal se torna uma peça chave na investigação. Completando o núcleo central, temos o delegado, seu assistente e uma jornalista.

O processo de investigação é muito engraçado. Conforme a polícia segue em frente com o caso, novos personagens surgem e detalhes sobre a vida privada de alguns dos investigadores e interrogados vêm à tona. São essas surpresas que tornam a história leve e muitas vezes hilária.

Em paralelo ao mote da narrativa, outros acontecimentos, como uma corrida de carros e a partida final da Copa do Mundo de 1938, ajudam a compor o cenário onde tudo isso se passa, um Brasil em pleno Estado Novo.

Trabalho de pesquisa

O texto do Jô é simultaneamente rico e simples. A leitura flui sem nenhum problema e a narrativa contém detalhes que vão desde a marca do cigarro fumado por uma personagem até a chegada de uma companhia de teatro estrangeira à cidade. Tudo isso foi resultado de um extenso trabalho de pesquisa, já que a grande maioria dessas minúcias é real. O livro também não tem capítulos longos, o que facilita o entendimento.

Em alguns momentos o leitor pode se perguntar o porquê de o autor ter introduzido aquele acontecimento na história, mas após a conclusão da obra é possível entender que tudo serviu para montar um encadeamento de fatos e uma visão mais ampla de tudo que está acontecendo. Isso serve também para mostrar que o mundo não gira em torno daqueles personagens.

Vale ou não vale?

Tenho que confessar que este foi meu primeiro livro do Jô. Vi algumas resenhas que comparavam As Esganadas com as outras obras policiais dele. Nestes posts, os autores haviam detestado a narrativa. Em certo ponto eles têm razão, pois a grande maioria dos personagens é rasa. Todo o cuidado que foi dado à construção de cenários e ao modus operandi não se refletiu em alguns personagens, mesmo aqueles que estão presentes quase o tempo todo. Devido a isso, Tobias Esteves acaba virando um “sabichão” que tem de resolver tudo.

Livro conta com 264 páginas

As vítimas também não são exploradas. Ao contrario de outros autores que fazem você se apegar aos personagens, Jô simplesmente tira moças gordas da cartola e logo dá cabo da vida das infelizes. O final também não é algo surpreendente, após a metade da obra você já pode prever como tudo será solucionado.

Apensar de algumas falhas, a história é interessante e tem um quê de Jack, O Estripador (um dos fatos que me atraiu já que me interesso pela história desse personagem). É um livro para adultos, pois o enredo é permeado por assassinatos e conteúdo sexual. O humor negro também é uma marca que Jô imprime em suas páginas. E cuidado com a “boca suja”.

Ficha catalográfica

Título original: As Esganadas

Autor: Jô Soares

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2011

Páginas: 264

ISBN: 9788535919752

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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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