Lançado em 1973, o romance Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, da autora americana Lois Duncan, conta a história de quatro jovens que após cometerem um ato terrível fazem um pacto de jamais contar a ninguém o que aconteceu naquela noite. Um ano depois, no entanto, quando eles já seguiram em frente com suas vidas e sequer são amigos próximos, Julie – que aguarda a resposta sobre sua inscrição na faculdade – recebe uma carta misteriosa. Sem remetente ou qualquer dica de quem a enviou, a correspondência só contém uma frase: Eu sei o que vocês fizeram no verão passado.
Chocada com aquilo pode significar, a garota procura então os antigos amigos para avisar sobre a suposta ameaça de que alguém sabe sobre o ato cometido por eles no passado. A partir daí, a adolescente e seus colegas Ray, Barry e Helen se vêm envolvidos em uma trama tensa em que simplesmente não podem confiar em ninguém – nem neles mesmos.
Dicotomia literária
O livro se trata de um suspense YA. A premissa é, com certeza, extremamente interessante principalmente para quem cresceu entre os anos 1990 e 2000, quando a adaptação foi lançada no cinema. A narrativa, entretanto, traz algo peculiar. Ao mesmo tempo em que é direta, a história também passa por momentos de marasmo.
Tudo isso, porque logo nas primeiras dez páginas a autora já nos apresenta qual é o mote dessa história e nas quarenta seguintes deixa informações aqui e ali, mostrando o que aconteceu, como o fato se desenrolou e quem eram os envolvidos. Todavia, já na metade do tomo, os personagens simplesmente permanecem inertes, em puro estado de negação, como se as ameaças simplesmente não existissem.
Qualquer YA
Como quase todo livro para jovens adultos, a profundidade dos personagens praticamente é inexistente. Além disso, a escritora não se preocupou em criar uma vasta lista para nos confundir. Fora os quatro protagonistas, poucos são os secundários e pior ainda os terciários. Isso facilita muito para que o leitor descubra o grande mistério. Eu, por exemplo, saquei logo nas primeiras páginas, quando “a solução” aparece sem muito alarde, é claro. (coff, coff… parece que temos um xeroque rolmes aqui).
O leitor também não terá que se preocupar com descrições. Essa é uma característica da escrita da autora. Ao final do livro, a editora trouxe uma entrevista com Duncan em que ela comenta que sua narrativa está focada propositalmente na ação. Essa estratégia, segundo ela mesma, é utilizada para não perder o jovem leitor, que poderia facilmente se dispersar.
Ademais, essa obra concentra suas forças em uma única linha narrativa. Não há quase nenhum enredo secundário para tirar a atenção daquilo que realmente importa. Em outras palavras, não acontece muita coisa nesse livro, o que também ajuda a tornar o final bem previsível.
Chamou atenção
Mais que o próprio desfecho em si, o modus operandi como as coisas ocorreram foi, na verdade, a grande surpresa para mim. Nesse quesito a autora realmente conseguiu me surpreender. A solução é dada de forma bem direta, assim como quase todo o livro e logo em seguida o livro termina abruptamente. Isso foi bem esquisito para mim. No entanto, na entrevista ao final, a escritora novamente esclarece que essa também é uma característica de suas obras. “Sempre concluo minhas histórias logo após o grande clímax”, comenta Duncan.
No mesmo anexo também somos informados de que a edição que temos em mãos (ou no Kindle) não é a versão original. A própria escritora decidiu fazer uma atualização da história no início da década de 2010. Agora os personagens contavam com celulares e também tiveram seu linguajar modernizado. As justificativas para tal atitude, contudo, não me convenceram. Para mim, um livro é fruto do seu tempo e precisa permanecer em sua forma original para que as pessoas do futuro possam compreender o passado e observar a evolução da sociedade como um todo. Tudo, segundo vozes da minha cabeça, foi motivado apenas para lucrar um pouco mais.
Além do mais, não é possível conceber que um autor faça updates de seu trabalho simplesmente para inserir tecnologia, modificar gírias e atualizar fatos históricos como guerras (primeira versão foi utilizada Guerra do Vietnã e na segunda a Guerra do Iraque). E os erros, a burrice dos personagens, as barrigas da história? Esses defeitos simplesmente permaneceram intocados após uma revisão realizada quase 40 anos depois?
Para as telas
Não há como negar que Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado só ganhou mais atenção do público após o lançamento do longa-metragem de 1997. A autora também se empolgou na época, mas logo viu tudo ir por água abaixo. O diretor modificou bastante a história no roteiro. No lugar de um suspense, como é o caso do livro, os espectadores assistiram a um terror slasher – aquele que sempre tem um assassino misterioso (as vezes mascarado) que sai assassinando todo mundo por aí.
O estúdio aproveitou memos foi a ideia do “Eu sei…” e os nomes dos personagens. De resto, tudo muda e… se torna sim uma história mais interessante que do que a literária. A receptividade para a adaptação foi boa. Tanto é que um ano depois chegou às telas uma sequência nos mesmos moldes que o primeiro filme, desta vez sob o título “Eu Ainda Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”. Ambas as obras estão disponíveis no HBO Max.
E não é só. Em 2006 uma nova sequência foi produzida: Eu Sempre Vou Saber o Que Vocês Fizeram no Verão Passado. Todavia, esta terceira parte não se trata de uma continuação direta dos dois primeiros longas, mas sim uma história independente das demais.
Entretanto, não parou por aí. A obra de Duncan também ganhou uma nova versão audiovisual, desta vez no formato de série sob o mesmo nome original: Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, em 2021. Ainda seguindo o formato slasher e dividida em 8 episódios, a versão do Prime Video, serviço de streaming da Amazon, não empolga tanto. De qualidade duvidosa (e com o quê a la A Usurpadora), a empreitada foi cancelada na primeira temporada.
História real
Reconhecida principalmente pelos livros do gênero thriller, horror e suspense, Lois Duncan se viu envolvida em uma história terrível em sua vida pessoal. Em 1989 sua filha foi assassinada e o caso jamais foi solucionado pela polícia. Após o ocorrido a escritora se afastou dos estilos literários que lhe deram mais notoriedade, mas ainda sim lançou em 1992 uma obra de não ficção intitulada Who Killed My Daughter?
O livro que trata sobre o caso pessoal ainda teve uma sequência chamada One to the Wolves que chegou às livrarias em 2013. Duncan faleceu três anos depois, em 2016, aos 82 anos.
E você, sabia que Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado era originalmente um livro? Já leu? Comente com a gente lá no Instagram o que você achou das versões literárias, do cinema e também da Amazon.
Compre o livro pelo nosso link e contribua com o Capitulares: https://amzn.to/3VI3cl6
Compre também a versão em inglês: https://amzn.to/3ESD0Or
Leia também: Seis livros perturbadores para o dia das bruxas
-
Enredo7
-
Desenvolvimento4
-
Edição6
-
Originalidade4