Resenha – Virada no Jogo, de John Heilemann e Mark Halperin

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Virada no jogo eBook : Heilemann, John, Halperin, Mark: Amazon.com.br:  Livros
Versão traduzida do livro

Este é um ano muito importante para nosso País. Isso porque iremos às urnas decidir quem serão os nossos líderes pelos próximos quatro anos. Por isso, essa semana trago para vocês a resenha de Game Change (em português: Virada no Jogo), de John Heilemann e Mark Halperin.

O livro é uma grande reportagem sobre os bastidores das eleições presidenciais americanas de 2008. Os repórteres acompanham de perto, desde o término do mandato de Bill Clinton como presidente dos EUA, a vida política da ex-primeira-dama Hillary Clinton, eleita senadora por Nova York em 2000, reeleita em 2006 e postulante à vaga presidenciável democrata em 2008. Os jornalistas também dão destaque a um, até então, mero senador desconhecido, Barack Obama, que surge como uma zebra na pré-corrida à Casa Branca. Do lado Republicano, o na época, franco favorito Senador John McCain luta para provar que os conservadores deveriam continuar no poder apesar do desastroso segundo mandato de George W. Bush. O que o veterano de guerra não contava era com a falta de habilidade de sua companheira de chapa, candidata a vice-presidente e governadora do estado do Alasca, Sarah Palin.

Se você não gosta de não-ficção, fique sabendo que Virada no Jogo é jornalismo puro. Além disso, se você não tem a mente aberta e não entende que jornalismo é uma atividade humana e, justamente por esta característica, está fadado às falhas dos homens e mulheres que o praticam, esse livro não vai te agradar. Virada no Jogo apresenta um retrato da política norte-americana durante a mais disputada eleição presidencial dos EUA dos últimos tempos. Se você ainda é muito jovem e não se lembra dessa época, esqueça Trump. Hillary, Obama, McCain e Palin protagonizaram uma das maiores batalhas “cívicas” já vistas e mudaram paradigmas em corridas à Casa Branca.

Antes de começar

Na verdade, naquele ano, a verdadeira disputa ocorreu na pré-campanha, quando os postulantes Hillary Clinton e Barack Obama se enfrentaram como titãs pela vaga de candidato do partido Democrata. Franca favorita para levar as prévias, Clinton jamais imaginou que um novato e desconhecido nacional seria seu principal concorrente e também o seu algoz. Esta afirmação se confirma na divisão editorial feita pelos autores. Dos 23 capítulos, 14 são dedicados à disputa interna democrata, apenas três ficaram para a preliminar republicana e outros seis retrataram a disputa presidencial em si entre Obama e McCain.

The 2008 Democratic Primary Was Far Nastier Than 2016's | The Nation
Senador Barack Obama e senadora Hillary Clinton durante um debate na pré-campanha democrata – Eleições 2008

Eletrizante desde o início, a disputa entre Clinton e Obama expõe um grave problema que reverbera em todo o mundo. Rechaçada pelos principais veículos de comunicação de seu País, a ex-primeira-dama foi incansavelmente perseguida pela imprensa que, em quase todos os momentos possíveis, buscava retratá-la de maneira negativa como forma de manipular a opinião popular. O objetivo da mídia era simples, favorecer Obama. Hillary e seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, não podiam dar sequer o mínimo passo fora da linha que no dia seguinte todos os jornais estampavam o fato, por mínimo que fosse.

Por outro lado, a obra de Heilemann e Halperin retratam um freepass garantido por parte dos jornalistas a Obama que teve bem menos escândalos expostos e bem menos publicidade negativa, em alguns casos em uma verdadeira operação abafa. O indulto foi mantido quase que intacto, sendo rompido apenas em situações pontuais quando Obama já havia conquistado a vaga de candidato Democrata e já concorria diretamente com John McCain.

Sem gás

Do outro lado da cerca, as disputada republicana foi morna. Depois de sairmos de uma corrida eletrizante no terreno azulado, os capítulos dos conservadores vermelhos foram os mais arrastados e enfadonhos. Com candidatos quase sem carisma e com um favorito que era imbatível, McCain venceu se tornou facilmente o candidato republicano.

Palin is McCain's boldest gamble
Governadora Sarah Palin e senador John McCain durante campanha presidencial – Eleição 2008

Virada no Jogo volta a ficar irresistível a partir da terceira parte, quando McCain, objetivando conquistar mais votos femininos, escolhe como sua candidata à vice Sarah Palin. Enquanto Obama buscou em seu colega de chapa alguém mais conhecido e alinhado ao status quo da política norte-americana (o selecionado foi o então senador Joe Biden, futuramente vice-presidente e atualmente presidente dos EUA), o candidato republicano preferiu inovar. Para enfrentar o carisma do primeiro candidato negro à presidência dos EUA pelo partido Democrata, a escolhida era também uma desconhecida em âmbito nacional e a primeira mulher candidata à vice-presidente pelo partido Republicano.

A princípio a escolha foi certeira. Sarah trouxe à chapa vermelha exatamente o que faltava, carisma. A Palinmania tomou conta dos conservadores americanos, tornando-se um fenômeno quase que instantâneo e abalando seriamente as estruturas do QG Obama/Biden. Entretanto, o despreparo da governadora para lidar com temas básicos de uma campanha federal como economia, política externa, geografia mundial básica e, até mesmo, história americana e mundial expuseram uma fragilidade gigantesca de McCain/Palin, colocando em dúvida a capacidade da candidata de assumir o segundo mais importante cargo da nação e, pior ainda, sua capacidade de substituir o titular caso este, já com mais de 70 anos, viesse a falecer antes do término do mandato.

…só mesmo assistir a queda

Foi um prato cheio para a imprensa. Aqueles que já haviam garantido um freepass à Obama não perduram as inconsistências de Palin e exploraram até a último momento cada erro cometido pela governadora, mantendo ainda em boa parte a candidatura de Obama com costas largas, apesar dos tremores internos que ocorriam entre o candidato democrata e Biden.

No fim, a candidatura republicana se viu perdida. Sem dinheiro e com os terremotos causados pelas declarações catastróficas de Sarah, além da escalada populista que as eleições haviam tomado, ficou impossível vencer o popstar Barack Obama e o estável e reconhecido Joe Biden. Todavia, apesar da grande contribuição de Palin para a derrota, o livro mostra claramente que a mídia da época fez parecer que a culpa por tudo de errado durante a campanha era da candidata, o que não correspondia a verdade. McCain também se mostrou, em uma escala menor e menos exposta, despreparado para assumir a chefia de estado, sendo um político pouco hábil e sem interesse em temas básicos para quem deseja ocupar o cargo.

Você pode assistir

Mais tarde a obra foi adaptada para um telefilme da HBO intitulado no Brasil como Virada no Jogo. Diferentemente da versão literária, o longa opta por retratar os acontecimentos pela perspectiva republicana, focando muito em Sarah Palin, interpretada por Juliane Moore, e deixando os democratas mais de lado, quase sem espaço. Novamente aqui o espectador é induzido a pensar que a vice republicana foi a única responsável pelo fracasso na disputa. Eu diria que esta versão até exagera mais nas tintas ao retratar a política. Contudo, o livro também transcreve os defeitos do senador McCain. O resultado pode ser visto no HBO Max.

Como resultado final, a experiência de leitura deste livro foi fantástica. O mais legal de ler uma obra como esta e pode encontrar facilmente material extra online e gratuito. O YouTube está repleto de vídeos reais destes candidatos, sendo possível ler o relato dos autores, assistir a adaptação televisiva e conferir, para tirar as próprias conclusões, a versão original de determinadas situações. Vale a pena a leitura para quem quer conhecer os meandros da política dos EUA e o modus-operandi da imprensa durante uma eleição tão grande e tão relevante não só para o país ao qual se refere, mas para todo o mundo, podendo sim manipular informações dependendo de seus interesses.

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  • Narrativa
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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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