Um quadrinho oriental que se passa nos EUA
Composta por cinco volumes de cerca de 200 páginas cada um, a série de mangás Green Blood foge do enredo tradicional da maioria dos quadrinhos orientais que ganham destaque aqui no Brasil. Isso porque a estória, diferentemente do que estamos acostumados, tem como background a história dos EUA e a imigração irlandesa para a América do Norte.
Desenvolvida pelo mangaká Masasumi Kakizaki, a trama se trata de um seinen – demografia japonesa que determina o público masculino adulto como público-alvo deste produto –, e têm como protagonistas Brad e Luke Burns, descendentes de irlandeses que vivem em Five Points, a favela mais perigosa de Nova Iorque no século XIX.
Com personalidades completamente opostas, os dois irmãos levam vidas muito distintas. O primeiro, que é visto como um desocupado, na verdade ganha a vida como o assassino de aluguel mais temido da região. O segundo, mais jovem e mais inocente, acredita na força do trabalho honesto e deposita suas esperanças no sonho de uma vida diferente em um novo lugar. Assim, essa situação muda com o decorrer da história, mas a diferença entre Brad e Luke dita o clima da narrativa e permeia todos os volumes.
Além do shonen
Em suma, quando o assunto é mangá no Brasil, o mais comum é que nos lembremos de obras que ganharam as telas da TV e fizeram muito sucesso nos anos 1990 e 2000, como Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho e Dragon Ball. Contudo, o fato de Green Blood se destinar a um público mais velho traz um pouco de profundidade ao enredo. O mangaká optou por criar um narrador que traz contexto, ou seja, fomenta o leitor com informações que vão ajudar a compor o ambiente da história.
A arte também traz características mais adultas. O traço traz mais seriedade e mais realismo ao desenho. A sombra também é um recurso muito utilizado para criar um ambiente mais tenso, muitas vezes triste e melancólico. Alguns quadros também não são adequados para menores de idade devido ao conteúdo sexual e violento (principalmente de imagem).
No entanto, nem tudo é perfeito. O autor encontrou uma dificuldade muito grande em mudar a voz dos personagens. Esta é uma história que envolve diferentes faixas etárias, desde adolescentes até idosos. Todavia, todos eles falam da mesma maneira (como jovens/adolescentes), muitas vezes utilizando as mesmas gírias. É algo que traz bastante incômodo, pois não agrega verossimilhança, o que contrasta muito com a arte mais realista. É claro que este defeito pode ser da tradução e não do texto original.
Evolução (ou não) da história
Quem iniciar a Green Blood tem que ter em mente que aquela premissa de gangues de Nova Iorque (sim, se assemelha muito ao filme homônimo) não perdura até o final. Este arco tem início e se encerra nos dois primeiros volumes. A partir do terceiro, o mangaká traz uma transição para algo mais parecido com uma road trip ou uma história de faroeste – sempre com muita ação, violência e um pouco de sexo.
Creio que esta não foi a melhor das ideias mudar o cenário tão rapidamente. A Nova Iorque do século XIX me parecia um ambiente muito rico e muito propício para o desenvolvimento do enredo e de novas tramas. O ritmo imprimido na história não nos permite criar muita empatia pelos personagens, a não ser os protagonistas, e a manutenção do cenário ajudaria a manter alguns coadjuvantes promissores em cena e criar uma ligação melhor entre leitor e personagens.
A partir do volume quatro, um novo arco se inicia. Aqui, o mangaká deu espaço a questões mais sociais – como o racismo – e traz alguns personagens mais interessantes, como o garoto negro que protagoniza de certa forma este segmento do mangá.
No entanto, nem por esta nova temática os personagens ganham mais profundidade. Na verdade é bem ao contrário. Como os protagonistas de Green Blood são os mais profundos, a sensação é que eles perdem dimensões do início para o final da série. Depois do desfecho do primeiro arco, os irmãos traçam um objetivo em comum e cruzam o país em busca desta meta. Contudo, parece que nada mais existe na vida dos dois. Muitas situações passam a ser resolvidas de maneira rápida e extremamente simples, o que infantiliza a história.
Conclusão apressada
Sem sombra de dúvidas, o volume um é o meu favorito. Do dois para a frente, a história dá uma decaída – creio que por uma questão mercadológica e por orientação da própria editora japonesa que deu a impressão de querer atrair leitores mais jovens. Porém, o último volume recupera um pouco da qualidade do primeiro – não exatamente em profundidade, mas em ação e emoção.
Também creio que a série poderia ser um pouco mais longa. A opção por fechar a história em quatro volumes apressou a conclusão e casou a impressão de infantilização. Enfim, é uma série muito boa no geral. Recomendo a leitura para variar os gêneros de mangá e também para apreciar a arte que é sem dúvida o ponto alto desta obra.
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Quadrinho muito bom para variar os gêneros de mangás que você consome.
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Narração9
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Desenvolvimento7
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Clímax7
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Edição8
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Enredo7