Resenha – Ayrton – O Herói Revelado, de Ernesto Rodrigues

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Um retrato do maior piloto de todos os tempos

A década de 1990 foi marcada por grandes perdas no cenário midiático mundial. Aqui no Brasil não foi diferente, diversas tragédias sensibilizaram multidões. Entre elas está a morte de um dos maiores ídolos nacionais e internacionais, o piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna, no dia 1º de maio de 1994 durante o GP de San Marino.

Como resultado dessa comoção surge, em 2004, o livro Ayrton – O Herói Revelado, de Ernesto Rodrigues, que traz a vida do esportista que se tornou um fenômeno. Com um texto muito direto e bem objetivo, a obra mistura concisão e uma rica narrativa. Devido a ser fã de Fórmula 1, o autor foca no decorrer das mais de 640 páginas na vida profissional do piloto, que desde muito pequeno iniciou sua carreira nas categorias base do esporte.

Verdadeira paixão

Diferentemente do que muitos podem imaginar sobre a biografia de um grande ídolo, o livro de Rodrigues não tem o foco voltado essencialmente para o lado pessoal de Ayrton. O autor faz questão de enfatizar que a grande paixão e o verdadeiro amor do piloto era o automobilismo. Sendo assim, nada vinha antes disso. As competições, os carros, as corridas e a busca pela vitória eram sempre prioridade na vida dele.

É por isso que logo nas primeiras páginas já passamos do nascimento de Ayrton às competições de kart, que tiveram iniciou ainda muito cedo na vida dele. A partir daí, seguimos uma espiral frenética. Vemos Senna passar de categoria em categoria dentro do automobilismo, até chegar em 1984 (dez anos antes de sua morte) na tão sonhada e mais importante categoria do segmento, a Fórmula 1.

Senna era sim muito família, mas o seu comprometimento profissional fez com que muito da sua vida se fundisse a sua carreira. Mãe, pai, irmãos e outros familiares são mencionados e aparecem pontualmente na história narrada por Rodrigues, mas eles não são de forma nenhuma coprotagonistas desse enredo. Eles estão lá apenas quando são extremamente necessários e quando desempenharam papéis, de fato, relevantes na vida do piloto.

Quem o rodeia

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A “falta” da presença familiar no texto é pouco sentida. Na verdade, o livro está repleto de personagens que rodearam a vida de Senna durante as corridas, treinos e compromissos profissionais fora do esporte. Vamos encontrar nesse livro amigos, colegas e conhecidos de Senna que sempre o seguiam nas temporadas européias e Grandes Prêmios de F1 mundo afora. São personagens recorrentes do livro mecânicos e engenheiros das equipes pelas quais Ayrton passou durante sua carreira, bem como empresários e executivos que jamais soubemos os nomes, mas que foram fundamentais na carreira do piloto para que ele atingisse o auge.

No entanto, não são apenas desconhecidos citados por Rodrigues em sua obra. Grandes nomes da imprensa como Galvão Bueno e Reginaldo Leme foram personalidades que estavam sempre próximas ao piloto. A relação desses dois jornalistas com o biografado é bem explorada. Além disso, o texto retrata uma certa afinidade entre Senna e o ex-presidente da república Fernando Collor de Mello, relatando, inclusive, momentos em que o Governo Federal buscou intervir junto a entidades internacionais em favor de Ayrton, quando um grande impasse se apresentava frente ao brasileiro.

Grandes momentos, poucos detalhes

A agilidade que o autor dá à narrativa não traz só pontos positivos. Senna foi tricampeão de Fórmula 1, ganhando os campeonatos de 1988, 1990 e 1991. Contudo, apesar de focar fortemente na carreira do piloto, caso o leitor não preste atenção poderá perder essas informações fundamentais. O texto não faz grandes referências às vitórias de campeonatos. Essas informações são lançadas aqui e ali nos capítulos, o que pode confundir quem não conhece ou não está familiarizado com o esporte.

Mesmo com essa velocidade, o texto também não consegue evitar a repetição em vários momentos. Pudera, o livro narra as 11 temporadas das quais Senna participou na F1 (sem contar as de outras categorias), o que faz muitas situações se repetirem constantemente. O fato de ser um piloto diferenciado, sempre muito focado e sempre muito integrado aos mecânicos da equipe, também ajuda a tornar a narrativa repetitiva. Muitos detalhes sobre motores e as partes técnicas dos carros são repetidamente mencionados na biografia, demonstrando a constante obsessão que Senna tinha pelo esporte.

Amor nos holofotes

Adriane Galisteu diz que Ayrton Senna não realizou o grande sonho da sua  vida - Verso - Diário do Nordeste

O casamento entre as duas principais características dessa obra, a vida profissional de Senna e a narrativa ágil escolhida pelo autor, também não dão muito espaço para os episódios sentimentais da vida do piloto. Por isso, logo nos primeiros capítulos, depois de alguns namoros breves, somos apresentados a primeira, e única, esposa de Ayrton. Porém, novamente sem muitos detalhes. Em poucas páginas conhecemos a garota por qual ele se apaixona, acompanhamos o namoro, noivado, casamento, mudança para a Europa e o fadado divórcio.

Relacionamentos mais midiáticos ganham um pouco mais de espaço, mas não tanto quando era o esperado. Xuxa Meneguel, a primeira namorada publicamente conhecida do piloto, é mencionada algumas vezes. No entanto, logo depois do início inesperado do namoro (Ayrton procura Xuxa), passamos por um período de bonança, mas logo surgem os problemas com a agenda da apresentadora e com a antiga empresária Marlene Mattos.

Adriane Galisteu era a então namorada na época do acidente fatal de Ayrton e recebeu bem mais atenção do autor do que as outras. Isso, no entanto, se deve provavelmente ao jornalista ter utilizado como fonte de pesquisa o livro lançado pela apresentadora pouco tempo depois da morte do piloto – Caminho das Borboletas. Além disso, Adriane sempre foi mais aberta e sempre comentou com mais naturalidade o impacto da atleta em sua vida antes, durante e depois da fatalidade.

Que dor

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Que sensação estranha tive ao terminar esse livro. Um vazio muito grande ficou depois da última página. Senna foi sem dúvida uma pessoa iluminada por Deus. Foi humano, claro, mas sem dúvida um humano muito especial. O livro não consegue te prender o tempo todo. Há quedas de energia. No entanto, como um filho de 1991, só tinha dois anos quando o carro do piloto se chocou violentamente contra o muro da Tamborello.

No decorrer desses anos, ouvi relatos dos meus pais sobre aquele dia. Todos sempre muito marcantes. É aquele tipo de evento que todo mundo sabe onde estava e o que estava fazendo quando aconteceu. Lembro-me de visitar o túmulo de Ayrton com a minha família anos depois do acidente, mas jamais tive a noção real do que ele representou para esse País.

Apesar de você já saber o que vai acontecer, os capítulos 12, 13, 14 e 15 te deixam com uma sensação de completo vazio. É quase uma tristeza. O livro começa lento e vai melhorando seu ritmo com o folhear das páginas. Merece uma reedição. Fiquei com um sentimento estranho depois de terminar.

Confira também a última resenha do capitular Felipe: Carrie, a Estranha

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85%
85%
Muito bom

Título: Ayrton - O Herói Revelado
Autor(a): Ernesto Rodrigues
Editora: Objetiva
Ano: 2004

  • Narrativa
    7
  • Enredo
    10
  • Desenvolvimento
    7
  • Clímax
    10
  • User Ratings (1 Votes)
    6.9
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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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