Resenha Dupla – O Chamado do Cuco, de Robert Galbraith

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O Chamado do CucoLançado em abril de 2013, O Chamado do Cuco só ganhou fama mesmo alguns meses depois com a descoberta de que o autor Robert Galbraith é na verdade J. K. Rowling, a mãe do Harry Potter. O responsável por vazar a informação foi Christopher Gossage, sócio de um escritório de advocacia contratado pela escritora. De acordo com o portal G1, ele comentou com uma amiga a verdadeira identidade do romancista.

Ainda segundo o site de notícia das Organizações Globo, por infringir as normas que regem a relação entre advogado e cliente no Reino Unido, tanto Gossage quanto o escritório do qual é proprietário foram condenados a pagar uma multa que foi totalmente revertida para obras de caridade.

O enredo conta a história de Cormoran Strike, um ex-militar que agora ganha a vida como detetive particular. O problema? Sua agência tem apenas uma cliente e ele está na pior. Com funcionárias temporárias indo e vindo a cada semana, essa situação começa a mudar quando um homem aparece em seu escritório pedindo que Cormoran investigue um caso, o suposto suicídio/assassinato da famosa modelo Lula Landry, irmã do sujeito que agora se encontra na cadeira de clientes.

De acordo com o relatório final da polícia, o caso foi considerado suicídio, mas o contratante não acredita nesta conclusão. Para ajudar a convencer o protagonista a aceitar o caso, rios de dinheiro são colocados na mesa.

Junta-se a este complicado cenário a chegada de Robin, uma mulher esperta e dedicada, que é a atual assistente temporária da agência. Superando qualquer antecessora, a jovem é o braço direito do detetive nesta investigação, mas está prestes a partir para um novo trabalho caso Cormoran não desvende logo o mistério da modelo e consiga mais clientes.

O que os detetives Capitulares acharam dessa história toda você confere a seguir:

Detetive: Felipe Paiuca

Caso: Lula Landry (suicídio ou assassinato?)

Formou um palpite no decorrer da história? Sim

Esse palpite se confirmou após a conclusão da leitura? Sim

Robert Galbraith é o pseudônimo de J. K. Rowling, criadora da saga Harry Potter e do livro Morte Súbita
Robert Galbraith é o pseudônimo de J. K. Rowling, criadora da saga Harry Potter e do livro Morte Súbita

Admirável, a fluidez do texto surge desde o principio. O estilo Robert Galbraith lembra muito J. K. Rowling (por que será?). Descritiva e cativante, a narrativa atribui valor aos detalhes e constrói pouco a pouco cada personagem, sem revelar demais, mas definindo plenamente características comportamentais e visuais aos personagens e ao ambiente.

Diferentemente de Morte Súbita (veja resenha aqui), que tinha temas extremamente complexos envolvendo política, sociedade e bullying, O Chamado do Cuco trata de assuntos como morte e preconceitos, mas de forma mais suave, sem chocar o leitor de forma alguma.

Sorria, você está lendo J. K.

O humor está presente desde o primeiro encontro entre Cormoran e Robin, seguindo com estes personagens durante todo o enredo. Porém, as gargalhadas são deixadas para o final. No início tudo é muito divertido, mas não hilário. Aquela risada alta demorou a acontecer com esta obra.

Mas este fenômeno só aconteceu porque é preciso ganhar mais intimidade com as personas que rodeiam esta investigação. Digo isso, pois os momentos cômicos surgem principalmente com a maturação do relacionamento entre detetive e assistente. Claro que aqui e ali surgem personagens caricatos que conseguem arrancar do leitor um sorriso ou outro, mas não são eles os verdadeiros causadores de sua diversão.

Siga as pistas

Capa Britânica de O Chamado do Cuco
Capa Britânica de O Chamado do Cuco

Apesar de espectador, o leitor se torna um detetive observador. É preciso colocar toda a sua atenção no texto enquanto Cormoran visita ambientes e faz perguntas às testemunhas. Cada sinal pode ser uma pista e é nessa brincadeira que você segue, é assim que sua opinião toma forma e é deste jeito que o leitor se surpreende ou não com o final.

Mas convenhamos, você e eu, toda brincadeira que vira rotina acaba cansando. A quantidade de informações descarregada sobre o leitor em apenas uma entrevista é imensa. Detalhes corporais, descrições de maneiras e sentimentos e respostas complexas acabam te cansando com o passar da história. Em alguns momentos eu não queria mesmo saber nada sobre determinados personagens justamente pelas entrevistas sucessivas.

Drama da vida privada

Como eu disse, a parte bem humorada do protagonista fica por conta de seu relacionamento com Robin. Porém, a vida pessoal de Cormoran pesa muito neste livro. Apesar de algumas bizarrices que tornam o passado dele no mínimo curioso, a maior parte do lado privado do nosso “herói” é enfadonha e te cansa facilmente. Apesar disso, é óbvio que Galbraith utiliza este espaço para criar o background do personagem, para que ele não se torne um sem eira nem beira com o passar do tempo. É preciso dar profundidade ao senhor detetive.

Enquanto a vida dele é exposta ao leitor, a dela (sim, aquela, Robin) acaba sendo esquecida. Confesso que eu quis saber mais sobre a tal assistente eficiente e prestativa. Não quero dizer que ela seja uma sem eira nem beira na história, mas sua profundidade foi bem menos trabalhada do que a de Cormoran. Este é um ponto que precisa melhorar. Espero que em O Bicho-da-Seda isso já ocorra.

A grande causadora deste “defeito” no livro foi a estratégia adotada pelo autor, que seguiu a mesma ideia de Harry Potter. Uma narração em terceira pessoa, mas que foca primordialmente no protagonista. Uma lógica de narração mais parecida com Morte Súbita cairia bem no contexto de O Chamado do Cuco, pelo menos alternando entre Cormoran e Robin.

Continuando a analogia

O Bicho-da-Seda, segundo livro da série sobre o detetive Cormoran Strike
O Bicho-da-Seda, segundo livro da série sobre o detetive Cormoran Strike

Sim, eu estou comparando um livro YA com um romance policial, pois eles são, apesar das assinaturas, escritos pela mesma pessoa. Recordo-me que em Harry Potter, o protagonista, Rony e Hermione investigavam casos o tempo todo e as conclusões eram formadas com o passar das páginas, mesmo que no final você se surpreendesse amargamente.

Em O Chamado do Cuco, acredito eu pelo fato de o protagonista ser um detetive profissional e não simplesmente um garoto aprendendo feitiços em Hogwarts, as conclusões surgem apenas no final. A grande resposta é revelada nas últimas páginas. Esta atitude gera um certo incomodo, pois parece que o escritor quer deixar o leitor por conta própria (ora, pense você mesmo seu preguiçoso).

De qualquer maneira, acredito que os pontos fracos da obra se dão por este ser apenas o primeiro volume de uma série. O Bicho-da-Seda já está em minha meta para 2015, vamos ver como isso continua.

Detetive: Thiago Garcia

Caso: Cuco (suicídio ou assassinato?)

Formou um palpite no decorrer da história: Sim

Esse palpite se confirmou na conclusão da leitura: Sim

Antes de qualquer coisa devo confessar que comprei o livro pela capa. Entenda, a arte e10437451_10201474815791764_415204980206433623_n acabamento foram pontos-chave para a realização da compra. É um livro realmente bonito de se ver, mas não julgarei pela beleza estética, afinal seria cometer uma tremenda injustiça com a obra completa.

Devo confessar (também) que não li nada do Robert Galbraith (Vulgo J.K. Rowling) antes, então meu parâmetros não serão livros anteriores “dele” e sim livros que seguem a linha policial, investigação e detetives geniais.

Seguindo os passos do assassino

No livro o leitor acompanha os passos do detetive Cormoran Strike ao tentar desvendar o que realmente ocorreu com a modelo Lula Landry. O texto é fluído, quer dizer, se você estiver realmente lendo o livro não vai se perder ou ficar confuso. Em alguns livros investigativos pode acontecer de você chegar em um determinado ponto em que já não consegue acompanhar o raciocínio do investigador e a pergunta “como foi que ele chegou nisso?” ou a frase “acho que perdi algo” podem estragar a experiência da obra, mas no caso de O Chamado do Cuco isso não chega a acontecer. Por que?

Bem , a resposta é fácil. Primeiro por que você acompanha integralmente as entrevista de Cormoran com as pessoas que ele julga importantes para resolver o caso, o que ele sabe o leitor também sabe (de certa forma). Segundo, a investigação se resolve pelos fatos, isso quer dizer que não é um detalhe inimaginável que soluciona tudo no final. E, ao meu ver, para finalizar, o fato de Strike ser certeiro em sua linha de raciocínio não deixa ninguém no meio do caminho, o que na verdade é meio chato, pois ele vai seguindo uma linha reta até a conclusão.

Pegando o bloco de anotações

Aparecem muitos personagens durante a trama. Alguns deles você acredita serem descartáveis (e alguns realmente são), outros ganham importância no decorrer do livro e outros são fundamentais do começo ao fim. Ok, isso parece ser meio óbvio de se ter em um livro, mas para uma análise mais cuidadosa quis salientar este ponto.

O núcleo investigativo de Strike é bem variável e interessante. Motoristas, modelos, viciados, estilistas e muito mais. É legal ver o grande detetive tratando diferentes tipos de pessoas, alguns com a ajuda da eficiente secretária/assistente/conselheira Robin (uma personagem interessante para trabalhar, mas que não teve o destaque que eu esperava). Uma coisa frustrante do núcleo investigativo é o fato de tudo ser relevante, o que faz a gente pensar “que sorte dele que trombou com essa pessoa”, ou algo do tipo “Aff, temos um Deus ex machina em ação”.

Já os out investigação, principalmente o familiar, é extremamente chato (minha opinião). Eu cortaria facilmente do livro. A irmã de Cormoran, a ex-noiva dele, o noivo de Robin (Mathew, acho) e tudo fora não é atraente e nem atrativo. Não que eu não ame família e tal, mas vocês me entenderam (ou não?).

A Robin é a personagem secundária (que eu pensei que seria a principal junto a Strike) interessante e que deixa com um gosto de queria saber mais sobre ela. Mas nem o passado e nem as relações mais profundas dela são trabalhadas. Sabemos que ela é inteligente, sagaz, tem uma beleza “ok”, prestativa e ativa, mas é só, o que é realmente uma pena.cuco

Concluindo o Caso

Para quem gosta do gênero policial o livro é muito divertido de se ler. O cenário dá uma sensação de ser um filme Noir, o ambiente londrino imaginário ajuda a ter essa sensação, fora os cigarros, álcool e belas mulheres (pelo menos é o que o livro diz).

A verdade é que não se tornou o meu livro favorito policial. Na frente dele ainda tem muitos outros livros de outros escritores como Agatha Christie, Sidney Sheldon e Arthur Conan Doyle, mas acredito que Robert Galbraith (ou J.K. Rowling, para os íntimos) está no caminho certo.

 

Sorteio O Chamado do Cuco

Pessoal, neste mês de novembro a Editora Rocco lançou O Bicho-da-Seda, segundo volume da série sobre o detetive Cormoran Strike. O Capitulares decidiu então sortear o primeiro volume para aqueles que ainda não começaram a ler. Devido a algumas reclamações, decidimos simplificar as regras de participação. Você precisa simplesmente curtir nossa Fan Page no Facebook (https://www.facebook.com/capitulares?ref=hl) e preencher o formulário de participação com as suas informações (http://goo.gl/forms/JMUXpbiVuh).

Lembramos que o livro é seminovo, mas foi lido por apenas uma pessoa e está praticamente intacto. Caso queira vê-lo, fizemos este vídeo que você pode assistir ali embaixo (obs.: o vídeo está com as regras antigas, mas serve para você ter uma noção do estado de conservação do exemplar).

https://www.youtube.com/watch?v=tXi_eVSTEaY&list=UUwP2UlHzcRcwMwsiJhFDW0Q

Ficha catalográfica:

Título: O Chamado do Cuco

Título Original: The Cuckoo’s Calling

Autor: Robert Galbraith

Editora: Rocco

Páginas: 448*

ISBN: 9788532528735

*Pode variar conforme a edição.

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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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