Falar sobre um livro de assuntos teóricos pode parecer meio estranho. Ninguém fala, ou quase ninguém diz: “Li um livro sobre cálculo I fantástico, todos deviam ler”, ou, “você precisa ver como o autor do livro explica bem como calcular uma equação de 2º grau com o limite tendendo ao infinito, de forma simples e eficaz”, se alguém chegasse para mim e falasse qualquer coisa parecida iria receber como resposta “…”, isso mesmo, nada.
Mas existem alguns casos em que esse preconceito com relação a livros teóricos pode se mostrar uma má ideia. Durante meus dois anos de engenharia, desistidos por sinal, fiquei sabendo de uma série de livros chamados Use a Cabeça que ensinavam alguns assuntos lógicos e de informática de forma bem peculiar e atrativa. Por que dizer isso? Porque falarei sobre um livro que trata da língua portuguesa, isso mesmo, não falarei sobre matemática.
A língua portuguesa é complicada para aprender, nunca sei quando estou falando certo, vivemos falando “mais maior” ou qualquer outra coisa que parece bizarro de dizer “amo ela”. Conjugar verbo? Saber diferenciar passado, presente e futuro é fácil, agora misturar “mais que perfeito”, “pretérito do imperfeito do não faço ideia o que possa vir aqui” entre outros é absurdo. Só quem mora em Portugal sabe falar direito essa língua complexa demais para nós mortais. Falar é uma tortura, escrever é um tormento. E é exatamente esses conceitos que Marcos Bagno tenta tirar de nossas mentes com relação a nossa língua materna. Tudo isso no livro “Preconceito Linguístico”.
A vontade que dá após começar a ler as primeiras paginas do livro é de ligar para aquele amigo que vive corrigindo os outros e xingá-lo por várias gerações por corrigir coisas que na verdade nem estão erradas. Esfregar na cara do “estraga prazeres da fala” que vale praticamente tudo e a vida é bela.
Mas calma. É sempre bom ir até o final do livro, para que você entenda todo o contexto. O livro não fala que devemos falar e escrever loucamente errado, mas sim que devemos compreender e entender a diversidade linguística que existe no extenso território brasileiro. Entender que nosso país tem um abismo econômico de pessoa para pessoa e isso interfere na fala. O livro mostra que não é impossível aprender e usar a língua nativa do Brasil e de Portugal, apesar de serem bem diferentes já.
Certo, até entendo que é um livro importante e que traz uma visão interessante sobre o português, mas qual o motivo de uma resenha sobre isso e não de um livro de romance? (Você pode me perguntar e eu respondo) Ele é realmente um livro legal. Abre a mente mesmo para a leitura. Desmistifica a língua portuguesa e, mais do que isso, desperta uma vontade de ler e escrever… Sim, como quando você lê um conto ou um livro incrível e pensa “queria escrever assim” ou “nunca vou escrever nada bom assim, não sei o suficiente” o livro diz: “Sim, você pode. Você deve. Comece a ler, a escrever e a falar. Vergonha aqui não tem vez”.
Ficha catalográfica
Título original: Preconceito Linguístico – O que é, como se faz
Autor: Marcos Bagno
Editora: Loyola
Páginas: 186*
ISBN: 8515018896
ISBN-13: 9788515018895
*PÁGINAS VARIAM CONFORME EDIÇÕES