“Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.”
No romance fictício de A Menina Que Roubava Livros, nossa narradora é aquela que estará presente no término de cada ciclo da vida. Ela trabalhou de forma árdua entre os anos de 1939 a 1945, levando mais de 50 milhões de almas. Porém, entre os anos de 1939 e 1943, tivera três encontros com uma menininha que viria para mudar nossa visão de que a Morte é austera, mostrando um lado mais sutil e até reconfortante.
A ceifadora de almas tem como “objeto” de sua curiosidade, a história de Liesel Meminger que acaba por ser narrada em meio a dez partes. Para cada uma destas, existe a preocupação de contar causos da vida desta garota em especial, uma ladra de livros.
Roubando livros
Liesel tem quase seus dez anos e é filha de pais comunistas, o que naquela época significaria perseguição pelos nazistas. Por conta disso, sua mãe decide enviar o filho mais novo e ela para um casal que mora no subúrbio pobre de uma cidade Alemã e vão adotá-los em troca de dinheiro do governo. No trajeto para o local, seu irmão acaba morrendo. Nessa situação acontece o primeiro encontro da ceifadora de alma com a ladra de livros. O início da “carreira” da garota acontece quando o coveiro que sepultava seu irmão mais novo, deixa cair um livro na neve e Liesel — sem nem saber ler — acaba por surrupiá-lo.
A menina, que roubara seu primeiro livro, segue viagem sozinha para uma cidadezinha de Munique, chamada Molching. Seu novo lar está localizado na rua Himmel, que numa tradução livre e irônica pode ser conhecida como “Céu”. A adoção foi feita pelo casal Hubermann. Seu pai de criação será o acordeonista, Hans e sua mãe a punhos de ferro, Rosa.
Ainda impressionada pela morte do irmão, Liesel é assolada por diversos pesadelos. Seu medo e sentimento de solidão são preenchidos por atos de confiança e amor que seu pai adotivo dedica a nova filha. O pintor de paredes e acordeonista, logo descobre o livro roubado por Liesel, um “Manual do Coveiro” e vendo que a menina mal sabe ler e escrever, decide lhe dar algumas lições de alfabetização.
Em meio ao crescimento e alfabetização de Liesel podemos “presenciar” novos furtos de livros para nutrir uma paixão e urgência pela literatura, uma amizade promissora com um garoto sonhador e principalmente a missão de ajudar seus pais adotivos a esconder um judeu “escritor”. Além disso, a Segunda Guerra Mundial começa a se intensificar também, resultando em mais trabalho para a Dona Morte que narra não somente a história da garota, mas igualmente a violência humana e crueldade do mundo adulto — que na época, era “controlado” por Hitler.
Livro apaixonante
Em A Menina Que Roubava Livros, me encantei pelos personagens tão reais, torci por eles e até chorei com alguns deles… Em geral quando me apaixono mesmo por um livro, tenho a amplificação de sentimentos, sendo necessário não deixá-los ir embora assim tão facilmente. Preciso — quase mais do que respirar oxigênio — MARCAR e fixar o que SINTO na hora da leitura. Para isso, leio e releio… não o livro todo, e sim os pequenos trechos ou as páginas que com toda a certeza vão ficar marcadas em minha memória, ou até mesmo no coração. Essa leitura e releitura também me faz pensar que, talvez, as cenas ou situações poderiam mudar e acabar como as que imaginei em minha cabeça tornando-as reais, ou uma realidade alternativa criada para aqueles personagens.
Além dos personagens, a narração da “Morte” consegue de todas as formas ser delicada, descritiva e tocante. Por conter algumas palavras mais rebuscadas e uma maneira mais poética de contar as histórias que acontecem com “capítulos” pequenos, alguns leitores podem achar tal leitura um pouco maçante ou entediante — em resenhas no Skoob, algumas pessoas reclamam de tal narração e até abandonaram a leitura da obra. Sendo assim, já aviso que as edições, com a média de 480 páginas, possam se tornar um desafio para leitores não têm afinidade com tais características textuais citadas acima.
Também existe um primoroso trabalho que foi feito pela Editora Intrínseca por meio das edições gráficas de capas (primeira foto acima), folha de rosto e no miolo (interior do livro), com destaques como: a escolha de uma ótima tipologia; páginas amareladas; e inícios de capítulos, ilustrações e observações textuais visualmente destacadas.
*Imagem 1: Uma das ilustrações do livro. Imagem 2: Folha de rosto do livro.
A força das palavras…
Ao término de A Menina Que Roubava Livros me peguei pensando na força das palavras. A priori, a ideia do autor foi de simplesmente escrever um livro sobre uma menina que os roubava ou que amava as palavras sem nem mesmo conhecê-las. O que ultrapassou essa ideia, foram os personagens cativantes, apaixonantes e breves (só pude “tê-los” por 480 páginas). Bastou ler uma, duas, três ou o conjunto de palavras que foram escolhidas na ilustração de sua narração, para finalizar com meu coração partido em dois pedaços ainda pulsantes (como o de Liesel na pág. 26).
Apesar da narração ficcional, com a história sendo contada pela Morte, o livro consegue captar os invisíveis, mostrando o cotidiano de alemães comuns que viviam no fogo cruzado da Segunda Guerra Mundial. Hitler, tanto no livro quanto na vida real, “mostrou” que as palavras são fortes condutores que podem determinar muitas vidas. O conjunto destas, segundo o livro, apareceram tal como a ruína de uns e a salvação de outros — literalmente.
A mensagem final escrita por nossa narradora, a Morte, é algo que faz com que pensemos e venhamos a refletir bastante… pois curiosamente existe algo que consegue assombrá-la e não são os causos de uma menina que roubava livros.
Ficha catalográfica:
Título: A Menina Que Roubava Livros
Título original: The Book Thief
Autor: Markus Zusak
Editora: Intrínseca
Ano: 2007
Páginas: 480
Média de preço: R$ 29,90