“Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada – para viver um grande amor.” Com o paragrafo final da crônica “Para viver um grande amor”, de Vinicius de Moraes, começo esse recapitulando sobre o livro que leva o mesmo título do texto do cronista, poeta e letrista.
No dia 19 de outubro de 1913 , no Rio de Janeiro, nasceu Vinicius de Moraes, e na madrugada de 9 de julho de 1980, aos 67 anos, morreu o poeta. Mas ele deixou um grande herança para a próxima geração.
O livro é uma coletânea de crônicas escritas para o jornal Última Hora, de 1959 até 1962 e também de poemas que ganharam vida nas mãos do poeta em seus últimos dias de Paris, em 1957, até o fim do estágio em Montevidéu, em 1960.
São no total 88 textos de Vinicius de Moraes que compõem o livro “Para Viver um Grande Amor”, entre crônicas e poemas. Cada texto é, de alguma forma, uma expressão de um Vinicius apaixonado, o título casa naturalmente com a obra.
As Crônicas
“Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferencia colhido no noticiário matutino , ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo.”
O livro começa com uma crônica que leva o nome de “O exercício da Crônica”, falando exatamente sobre escrever uma crônica e aparentemente a fórmula que o cronista usa para escrever. O cotidiano, o que acontecia ao redor, o que aparecia no caminho de Vinicius virava prosa e ganhava vida em seus textos.
A guitarra vira pretexto para uma crônica, “Uma mulher chamada guitarra” é uma das minhas crônicas favoritas (não só devido a minha paixão pela música e meu lado musical), o apaixonado poeta consegue nos fazer enxergar a guitarra, ou violão, como a “musica em forma de mulher”. Um casal de namorado sentados no parque se tornam motivos para criar um texto sentimental sobre o seu próprio amor.
A infância de Vinicius também é um assunto recorrente nas suas crônicas. Quando fala diretamente do pai, em “O dia do meu pai”, ou, quando escreve algo que traz uma sensação de nostalgia, como “A casa materna” e também “Menino de ilha”.
Vinicius de Moraes também cita bastante personalidades como, por exemplo, Oscar Niemeyer (uma crônica leva o nome do famoso arquiteto).
As Crônicas no livro mostram o quão versátil Vinicius pode ser na hora de escrever, sem perder sua particularidade, um texto detalhado e, mesmo assim, uma leitura natural e prazerosa.
Os Poemas
Não nego que a parte poeta de Vinicius de Moraes é a minha parte favorita. Hora ou outra volto a abrir o livro para ler algum dos poemas.
A medida do abismo
“Não é o grito
A medida do abismo?
Por isso eu grito
Sempre que cismo
Sobre tua vida
Tão louca e errada…
– Que grito inútil!
– Que imenso nada!”
Os poemas de Vinicius são inspiradores e, particularmente, estão na minha lista de favoritos. Só para fazer uma rápida comparação, apesar de gostar do Manuel Bandeira em “Estrela da Manhã” os poemas não são tão inspiradores quanto os de Vinicius (na minha humilde opinião), “Para Viver um Grande Amor” tem os tipos de poemas que eu gostaria de escrever, um exemplo é o poema “Uma música que seja…”, o meu poema favorito.
Finalizando
O livro intercala crônicas e poemas, e por serem curtos torna a leitura rápida e agradável. A estrutura do livro ainda permite leituras esporádicas, não precisa terminar tudo de uma vez, leia quando tiver com vontade de um pouco de poesia e amor na vida.
A versão do livro “Para Viver um Grande Amor” que eu tenho é da coleção Folha – Grandes Escritores Brasileiros. A capa dura faz uma feliz diferença (capa dura é esteticamente mais bonito, fazer o que?).
No geral é um excelente livro, mesmo para quem não é muito chegado em crônicas e poemas, ou mesmo quem nunca esteve em contato com esse mundo, “Para Viver um Grande Amor” é um ótimo livro para mudar o conceito ou construir um sobre esse tipo de escrita.