Resenha – A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne

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Publicado em 1873, A Volta ao Mundo em 80 Dias é considerado um dos grandes clássicos da literatura universal e uma das obras mais renomadas do escritor francês Júlio Verne (1828–1905). O livro traz a história de Phileas Fogg, um metódico cavalheiro inglês que vive em Londres, levando uma rotina muito bem estruturada, confortável e previsível.

Tudo muda, porém, quando o protagonista adere a uma aposta junto a outros cavalheiros da alta sociedade inglesa. A empreitada tem início por meio de uma notícia de jornal que relata que um homem havia roubado uma enorme quantia de dinheiro do Banco da Inglaterra. Quando o assunto toma conta do Reform Club, local onde Phileas Fogg ia todos os dias para almoçar, ler jornais e jogar, o protagonista afirma aos amigos que seria impossível saber onde tal criminoso se encontraria, pois os avanços tecnológicos permitiriam a qualquer um deslocar-se muito rapidamente pelo mundo.

Duvidosos da afirmação do nobre cavalheiro, seus amigos propõem então que ele empreenda uma volta ao mundo, sendo que esta deve estar completa dentro de um prazo de 80 dias (tempo afirmado pelo próprio Fogg como mais do que suficiente para concluir a viagem). Este, por sua vez, aceita o desafio e coloca toda a sua fortuna em risco. A partir daí, inicia-se a maior aventura da vida de Phileas Fogg e de seu novo empregado, Jean Passepartout, que acaba de começar em seu novo emprego e que aceitou trabalhar para o novo patrão devido aos velhos e metódicos hábitos do já conhecido senhor, visto que tudo o que o criado queria em sua vida era paz e tranquilidade.

Será verdade?

A Volta ao Mundo em 80 dias (Clube de Literatura Clássica) e lembrancinhas do Uruguai, Estados Unidos e Gramado – RS

O grande mistério em A Volta ao Mundo é a verdadeira intenção de Phileas Fogg com essa empreitada. Como acaba de iniciar seu trabalho a serviço do novo patrão e justamente por isso não o conhece muito bem, Passepartout começa a duvidar dos verdadeiros motivos que levaram alguém tão previsível a aceitar fazer uma viagem tão desconfortável e cheia de vicissitudes como aquela. Junto a isso, o fato de o ladrão do Banco da Inglaterra (aquele do jornal) ser muito semelhante ao protagonista da história coloca a iniciativa e a fortuna do cavalheiro inglês em perigo à medida que novos personagens surgem pelo caminho.

Apesar de acompanharmos o protagonista desde o início da trama, os questionamentos que diversos personagens trazem ao leitor são eficazes para incutir a dúvida. Será que o autor escondeu alguma passagem da vida de Fogg? Será que, de fato, a volta ao mundo tenta apenas despistar a polícia? Essas perguntas perduram por quase todo o livro. Além disso, o tempo urge e não há nenhum momento da trama em que não paire a dúvida: será que vai dar tempo?

Por aí!

Mundo se divide entre leste e oeste

São diversos os países pelos quais os personagens passam no decorrer da história. Iniciando na Inglaterra, patrão e criado seguem pela França, Egito, Índia, Cingapura, China, Japão e Estados Unidos – talvez até outros de que eu nem me lembre. Dentre os lugares percorridos, todavia, a Índia é sem dúvida o mais aprofundado. Colônia britânica, o leitor conhece um pouco mais sobre a história de dominação europeia naquele país asiático, como, por exemplo, o fato de o Reino Unido jamais ter conseguido controlar todo o território, pois era muito vasto e isso permitia que determinadas regiões se mantivessem com certa independência.

Além disso, costumes do povo local também são citados aqui e ali, não apenas da Índia, mas também de outros países, a fim de contrastar esses lugares — na época, remotos — com o que era habitual na Europa. É exatamente neste ponto que o leitor contemporâneo pode torcer o nariz para a história. Isso porque os personagens colocam o tempo todo a cultura europeia acima das outras, o Ocidente acima do Oriente.

Em determinado momento, quando os personagens iniciam o trecho da viagem que os levaria aos Estados Unidos, Passepartout utiliza a seguinte frase: “Finalmente estamos indo rumo à civilização.” Isso logo após passar por países como Egito, China e Japão, locais notoriamente reconhecidos por suas sociedades milenares.

Viagem ou volta?

Lá pelo meio do livro, o leitor notará que, apesar de trazer algumas informações sobre os locais por onde passam, no geral tudo é tratado com muita superficialidade. Isso pode, em certo ponto, ser considerado um defeito do livro, mas, se observarmos mais atentamente, o livro trata de uma volta ao mundo e não de uma viagem ao redor do mundo.

Júlio Verne é amplamente conhecido por sua obra de ficção científica

Qual a diferença? Uma viagem é muito mais do que deslocar-se do ponto A ao ponto B. O conceito de viagem que temos hoje, ainda mais uma viagem turística, envolve atividades como comer, beber, conhecer pessoas, visitar lugares, ter contato com uma cultura diferente da sua e muito mais. Entretanto, o objetivo de Fogg é claro desde o começo: ele precisa sair e retornar à Inglaterra em 80 dias. E isso não lhe dá tempo a perder ou para aproveitar os locais por onde passa.

Sem tempo, irmão

Diferente de muitos livros que vemos por aí hoje, que querem reinventar a roda, A Volta ao Mundo em 80 Dias é um livro prático e direto ao ponto. Situações são apresentadas e resolvidas de uma página para outra, muitas vezes na primeira tentativa. Novamente, isso pode ser confundido com um defeito, mas faz parte da lógica do autor. Novamente, temos que lembrar que Fogg não tem tempo a perder. Todos os empecilhos que aparecem em seu caminho precisam ser resolvidos de maneira rápida, pois há muito dinheiro em jogo.

A edição que utilizei também ajuda a sentir que a leitura voa, pois trata-se da versão bilíngue (francês à esquerda e português à direita) do Clube de Literatura Clássica. Além de bonita, ela é muito confortável de se ler. A experiência me fez querer muito ler outras obras de Júlio Verne.

E você, já leu A Volta ao Mundo em 80 Dias ou outros livros do autor? Converse com a gente lá no Instagram!

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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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