Resenha – A Assombração na Casa da Colina, de Shirley Jackson

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A ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA (NOVA EDIÇÃO) - Shirley Jackson - Grupo  Companhia das Letras

Lançado em 1959, o livro A Assombração na Casa da Colina, de Shirley Jackson, conta a história de Eleanor, uma jovem que acaba de perder a mãe – da qual era responsável pelos cuidados médicos – e que agora se vê obrigada a viver de favor na casa da irmã e do cunhado.

Sem perspectivas para sua própria vida, Eleanor recebe um convite do parapsicólogo dr. Montague para passar uma temporada na misteriosa Casa da Colina – uma mansão isolada localizada no interior dos Estados Unidos. A construção é conhecida por seu passado macabro e por supostamente ser assombrada.

Mudança de vida

Acreditando que essa é a grande oportunidade para que finalmente algo empolgante aconteça em sua vida, Eleanor aceita prontamente o convite e “rouba” o carro que dividia com a irmã para se dirigir ao local. Logo, a garota constata que foi a primeira a chegar e é apresentada ao estranho casal de caseiros. Eles jamais permanecem na residência após o pôr do sol.

Outros personagens como o próprio dr. Montague e outros dois convidados, Luke e Theodora, surgem no enredo. Eles completam o grupo que passará dias e noites na casa observando as possíveis manifestações sobrenaturais que aquele incômodo lugar guarda. Contudo, quando a situação começa a se complicar, outros dois hóspedes chegam para tentar esclarecer os fatos. E agora, será que o sobrenatural realmente existe ali?

Não é aprazível
Shirley Jackson – Wikipédia, a enciclopédia livre
Shirley Jackson, autora de A Assombração na Casa da Colina

De início, essa não é uma leitura convidativa. O clima da história é estranho. A autora faz uso de muita descrição de ambiente, caracterizando bem a casa e dando muito destaque para os detalhes. No entanto, isso não me atraiu, pelo contrário, criou uma nítida imagem de um ambiente do qual eu queria sair a todo custo.

A narrativa também não é dinâmica. Na verdade é lenta e as coisas demoram para acontecer mesmo este sendo um livro relativamente curto. O primeiro evento sobrenatural só surge mesmo depois da página 120, até lá acompanhamos a metódica elaboração do ambiente. Isso pode ser um problema para fisgar o leitor.

Além disso, senti-me um pouco perdido na construção dos diálogos. São bem confusos e confesso que em alguns deles não consegui acompanhar a linha de raciocínio dos personagens. Até certo ponto achei que poderia ser a tradução, mas com o avançar da história e com o narrador em terceira pessoa focalizado – ou seja, aquele narrador que apesar de não ser primeira pessoa acompanha o ponto de vista de apenas um personagem (neste caso a Eleanor) – interpretei que isso fazia parte da construção da história e principalmente dessa protagonista.

Coisa da sua cabeça

Conforme a história vai avançando, o leitor também percebe que aquele clima hostil observado no início do romance era coisa da própria cabeça mesmo. A narrativa lenta faz com que nos acostumemos com o ambiente e os tais eventos sobrenaturais não parecem de maneira alguma assustadores.

Com isso, tenho que concordar com a interpretação da booktuber Tatiana Feltrin sobre esse romance. Muito aquém de um livro de terror, esta é uma história sobre a saúde mental da protagonista que, como falei, dificulta o entendimento do que está se passando no enredo (os próprios diálogos entre os personagens) assim como a interpretação do leitor e dos outros personagens sobre o que realmente está acontecendo na casa da colina.

A protagonista não está conseguindo controlar e nem organizar seus pensamentos e atitudes e isso coloca em xeque os acontecimentos sobrenaturais da casa. Fica a questão: será que Eleanor estava influenciada por alguma assombração ou estava apenas sofrendo de transtornos mentais?

Todos são loucos?
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Do outro lado, temos os demais convidados. Eles também participaram de alguns eventos estranhos naquela casa. Além disso, temos a paranormal que chega mais tarde à mansão e que garante que o lugar é assombrado. E para fechar a incógnita, ainda há os caseiros que temem desde muito tempo aquele lugar. Todos esses personagens também estão perturbados como Eleanor?

No fundo, apesar de acreditar que Eleanor passava sim por problemas mentais profundos que a levam até seu desfecho, também não refuto totalmente a possibilidade de a escritora tentar deixar o final do romance em aberto, visto que ainda temos os outros personagens envolvidos nesses eventos.  No primeiro e no último parágrafo do livro, toda via, observamos que a casa da colina não passa de um objeto inanimado e que tudo que ali acontece é resultado da vontade e das ações daqueles que adentram o ambiente.

Em resumo, vá com expectativas baixas para um livro de terror e aprecie a construção do ambiente. Deixe que você mesmo perceba que a apreensão com relação à história está em você e não no texto.

Literatura comparada

Durante a leitura pude perceber elementos muito semelhantes a outros dois livros. O primeiro e o mais parecido é E Não Sobrou Nenhum, de Agatha Christie. Lançado em 1939, 20 anos antes de A Assombração da Casa da Colina, o livro policial também conta a história de um grupo de pessoas que é convidada a passar uma temporada em uma mansão localizada em uma remota região da Inglaterra.  Ao chegarem, sem conhecer de fato seu anfitrião, os convidados se deparam apenas com os caseiros. A partir daí, coisas terríveis passam a acontecer. Creio sinceramente que Jackson se inspirou muito nessa obra de Agatha.

O outro romance que também traz semelhanças é Psicose, de Robert Bloch. Nessa história, a personagem Mary Craine rouba uma grande quantidade de dinheiro e foge dirigindo pelo país para encontrar com seu noivo. No meio do caminho, a jovem acaba em um motel de beira de estrada sinistro. Não há como não notar a semelhança com o início da história de Eleanor, quando a garota rouba o carro e sai dirigindo fugida pelo país em busca de outro lugar medonho. Entretanto, a inspiração de Jackson se torna menos provável já que ambos os romances foram lançados em 1959.

Para o streaming

Em 2018 chegou ao catálogo da Netflix a série A Maldição da Residência Hill. Não se trata exatamente de uma adaptação, mas sim de uma obra livremente inspirada no livro de Shirley Jackson. Nesse caso, tenho que admitir que essa versão para a TV/Internet me agradou bem mais que a original.

63%
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Mediano
  • Edição
    9
  • Narrativa
    5
  • Enredo
    7
  • Clímax
    6
  • Desenvolvimento
    5
  • Originalidade
    6
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Jornalista formado desde 2013 – o tempo voa. O primeiro livro da minha vida foi “O Menino que Aprendeu a Ver”, de Ruth Rocha, em 1999. Enquanto a minha geração se aventurava com Harry Potter, a série que me conquistou para o mundo da leitura foi Deltora Quest, de Emily Rodda. Não tenho livro favorito, pois não consigo escolher e sempre tento variar os gêneros literários de uma leitura para a outra para abranger os mais variados temas possíveis.

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