Dentre tantos lançamentos em quadrinhos nas bancas, eis que encontro um em especial. Um quadrinho brasileiro ao estilo mangá, com ótimo acabamento, arte competente e tão divertido quanto os trabalhos internacionais lançados por aqui. Estou falando de QUACK – Patadas Voadoras, de Kaji Pato.
Onde as portas se abriram
Kaji (também conhecido pelo nome de batismo Carlos Antunes Siqueira Júnior) foi um dos ganhadores do primeiro Brazil Manga Awards 2014 (BMA), promovido pela Editora JBC. O concurso promove o envio de material original em quadrinhos para uma seleção dos cinco melhores. Os ganhadores (julgados pela banca selecionada pela editora) tem seus trabalhos publicados no Henshin! Mangá, publicação da JBC no selo Ink Comics.
Seu one-shot foi publicado no Henshin! e entrou no gosto do público. Neste ano, Kaji teve a oportunidade de expandir o seu mundo de QUACK em uma nova publicação, agora na Editora Draco, com o selo Contraversão.
Em sua primeira aventura, lançada no concurso BMA, QUACK se mostrou um quadrinho bem-humorado, bem desenhado e extremamente dinâmico. A única falha foi a falta de objetivo na narrativa. A falta de mensagem na história prejudicou um pouco o brilho que QUACK causou, mas não o impediu de continuar.
Voando alto
A história no apresenta o jovem Baltazar Drumont, um garoto acovardado e um pouco inseguro. Sua vida começa a mudar quando ele recebe um ovo de pato de seu avô. Sua família tem uma tradição de todos de sua linhagem cuidarem de um pato dourado, e dessa vez era a vez de Baltazar.
Depois de uma confusão com alguns garotos que perturbam a vida de Baltazar, o ovo acaba se chocando e dele nasce um pato falante. Inicialmente o pato aparente só atazanar a vida do garoto, mas algo longa a história, percebemos que o pato, nomeado Colombo Drumont, é muito leal ao seu companheiro e está disposto a ensinar Baltazar a ser uma pessoa mais confiante.
Baltazar é o típico garoto que não tem coragem de enfrentar os valentões na escola e faz de tudo para se mantes longe de encrenca, o problema é que a encrenca sempre vai até ele. A sua ajuda diária fica por conta de sua irmã Luciana, que sempre aparece para afugentar os valentões.
Por outro lado, temos o Colombo, um pato desaforado, irritante, encrenqueiro e muito leal ao seu companheiro. Fica bem claro o papel do Colombo, aflorar a coragem e auto estima que falta em Baltazar. A ação no final da edição prova que ambos serão amigos inseparáveis e que ainda vai rolar muita correria nas próximas edições, tanto pelo lado atrapalhado de Baltazar quanto o desaforo de Colombo.
O traço que nos remete a obras como One Piece, Dragon Ball e as referências retratadas nas vestimentas e equipamentos em modelos aéreos tiradas de referências ao trabalho de Hayao Miyazaki, que serviu de inspiração para o autor, demonstra o quão rico é essa obra no quesito visual.
A arte, a narrativa e diálogos continuam muito bons, mesclada com a mensagem de perseverança que o autor trouxe nessa obra. Mesmo com poucas páginas, 24 no total, Kaji consegue trabalhar bem o desenvolvimento dos personagens e estabelece o vínculo de amizade que deve percorrer as próximas edições de QUACK.
As mensagens de QUACK
Desta vez Kaji abordou um problema que está em voga hoje em dia, o bullying. Logo no início da edição é apresentado o sofrimento de chacota e violência que Baltazar sofre. O garoto apanha e aparentemente a agressão é diária.
O vigor de se voltar e aprender a se virar começa quando Colombo resolve se meter no bullying e deixa claro que não quer ver seu amigo virar saco de pancada. A mensagem é simples, mas ela fica mais divertida com o tom de humor empregado na personalidade forte do Colombo.
E mesmo que você pense: “nossa, que batido esse tipo de mensagem”. Eu digo que pode até ser, mas ainda é relevante. A falta de confiança em si mesmo é um baita problema que devemos levar mais a sério.
Estimule a criança, o jovem e até o adulto a prossegui e confiar mais em suas próprias ações. Incentivar a amizade, ajudar o próximo e a não desistir de seus sonhos. Esse último mais ainda, se pararmos para pensar que o autor só está passando está mensagem por não ter desistido lá em 2014, enquanto criava o one-shot de QUACK para o BMA.
Considerações finais
O acabamento da Editora Draco está ótimo. Bem revisado, bem editado e acabamento gráfico de boa qualidade. 24 páginas em formato canoa com interior em preto e branco.
O bacana desta obra é perceber o quão legal é ler um quadrinho com estilo oriental produzido por um brazuca. É um quadrinho que um jovem pode comprar e consegue se comunicar fácil com autor, seja por redes sociais, eventos ou por compartilhar do mesmo sonho, produzir quadrinho nacional.
QUACK continua…
A série Quack continua de forma online. Kaji lança um novo capítulo todo mês (na quarta semana do mês, para ser mais preciso). Cada capítulo contém 10 páginas e vocês pode conferir aqui no site da Draco Comics.
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Enredo8.5
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Narrativa8.5
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Desenvolvimento8
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Arte8.5
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Edição9